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Fora do campo, Natal enfrenta paralisações, protestos e calamidades

Aproveitando a presença do vice-presidente dos EUA, os manifestantes criticam o fechamento de espaços públicos para serem usados pela seleção norte-americana

A menos de três horas do início da partida entre os Estados Unidos e Gana, na Arena das Dunas, em Natal, servidores públicos e movimentos sociais do Rio Grande do Norte fizeram ato crítico aos gastos com a Copa do Mundo, em um cruzamento importante da cidade, a 2,5 quilômetros do estádio. Segundo a polícia, 100 pessoas participam do ato pacífico na tarde de hoje.

;O protesto é contra a injustiça da Copa, porque o gasto que se teve, essencialmente por parte do poder público, se deu em detrimento do que deveria ser destinado para áreas como saúde e educação;, afirma Rosália Fernandes, do Sindicato dos Servidores em Saúde, uma das organizadoras do protesto.

Aproveitando a presença do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, os manifestantes criticam o fechamento de espaços públicos para serem usados pela seleção norte-americana, como parte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, usada para treinamento do time, bem como a política de segurança adotada no Mundial, que consideram ostensiva. A Secretaria de Segurança Pública informou que o esquema de segurança do vice-presidente não foi alterado por conta dos protestos.

Além da mobilização dos servidores e movimentos sociais, a cidade convive com a paralisação de guardas municipais e de rodoviários. Motoristas e cobradores do transporte urbano pedem o reajuste salarial de 16% e a elevação do valor do vale-alimentação de R$ 197,35 para R$ 450,00. Para viabilizar a circulação de moradores e turistas, a prefeitura autorizou a circulação de veículos de transporte alternativo, como vans e micro-ônibus. Segundo determinação do Tribunal Regional do Trabalho, 70% dos ônibus têm de estar nas ruas nos horários de maior movimento, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia ao sindicato. Nos outros horários, a frota tem de ser mantida em 50%.

Os guardas municipais querem que seja enviada para a Câmara de Vereadores uma proposta de Plano de Carreiras e Salários. Presidenta do Sindicato dos Guardas Municipais, Margareth Vieira relata que a greve teve início no dia 5 de junho, depois de mais de um ano de debate sobre o plano e outras reivindicações da categoria, como o pagamento do seguro de vida. ;A única alternativa que nos restou a greve;, disse.

Na manhã desta segunda-feira (16), os guardas fizeram ato em Natal, ao lado dos policiais civis que, embora não tenham paralisado as atividades, mantêm uma agenda de mobilização nos dias da Copa. ;Nós fizemos uma carreata, depois um ato com panfletagem, quando dialogamos com a população sobre a segurança pública;, informou Margareth. Ela avalia que o dinheiro gasto com a Copa poderia representar mais investimento em trabalhadores e no serviço público. ;A gente vai ficar aqui nessa situação difícil pagando o preço da Copa. O povo não ganhou nada, só tem prejuízo, tanto quanto cidadão quanto como servidor público;, critica.

O jogo e os movimentos ocorrem no dia em que a prefeitura decretou estado de calamidade pública devido à chuva que atingiu a cidade entre quinta-feira (12/6) e domingo (15/6). O decreto, publicado na edição de hoje do Diário Oficial do Município, registra que houve transbordamento em dez lagoas, entre as quais a chamada de São Conrado, que fica a cerca de 10 quilômetros do estádio.



;O que aconteceu em Natal, desde quinta, com as chuvas que desabrigaram centenas de pessoas, mostra que a prefeitura, a exemplo de outros governos, não tem investido em nenhuma obra de infraestrutura de fato. A prefeitura fez empréstimos para várias obras, em nome da Copa, mas priorizou aquelas voltadas para os turistas. As obras de drenagem sequer começaram e poderiam ter reduzido o alagamento da cidade;, disse Rosália Fernandes.

De acordo com a Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura, as obras do sistema de drenagem da Arena das Dunas envolveram quatro lagoas e pretendiam levar as águas para o Rio Potengi. Procurada pela Agência Brasil, a prefeitura informou que as obras foram iniciadas, mas não foram concluídas no tempo previsto por causa de problemas na execução do projeto.