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Em Porto Alegre, polícia dispersa ato com bombas e jornalistas são feridos

Ação de dispersão ocorreu apesar das forças de segurança não terem registrado nenhuma depredação ou qualquer ação dos manifestantes que possa ser considerada crime

Um protesto convocado por movimentos sociais de Porto Alegre terminou nesta quarta-feira (18/6) após ação policial contra os manifestantes. Os repórteres do Portal Terra e da Rádio Guaíba foram atingidos por estilhaços de bombas de efeito moral lançados pela polícia. De acordo com a assessoria de comunicação do Comitê Gestor da Copa do Governo do Rio Grande do Sul, os dois receberam atendimento médico no local e depois no Hospital de Pronto-Socorro, mas já foram liberados.

A Secretaria de Segurança Pública do governo do Rio Grande do Sul informou que a polícia acompanhou a movimentação até o limite de uma faixa que havia sido colocada pelas forças de segurança para demarcar o limite da manifestação. Após a faixa, estava a Brigada Militar.

Em nota, a secretaria informa que esse limite foi rapidamente ultrapassado por manifestantes, que romperam a fita e avançaram em direção à tropa. "Para contê-los, foram lançadas quatro granadas de efeito moral pela Brigada Militar. Não foram usadas bombas de gás lacrimogênio para não atingir um número maior de pessoas que estavam nas proximidades", diz a nota.



Quando os manifestantes passaram da faixa, a brigada reagiu lançando bombas de efeito moral. Ainda de acordo com a secretaria, a área não faz parte da zona de restrição da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e não houve diálogo prévio com os ativistas acerca dos limites estabelecidos.

A ação de dispersão ocorreu apesar das forças de segurança não terem registrado nenhuma depredação ou qualquer ação dos manifestantes que possa ser considerada crime.

A concentração para o ato teve início às 12h, na região central da cidade. O grupo fechou uma avenida e tentou marchar em direção ao estádio Beira-Rio, onde foi disputada hoje a partida entre Austrália e Holanda. De acordo com Katia Marko, integrante do Comitê Popular da Copa de Porto Alegre, os ativistas foram impedidos de continuar o trajeto pela Brigada Militar, permanecendo cercados em uma praça por cerca de uma hora. Uma negociação entre policiais e os cerca de 150 participantes do ato possibilitou que os ativistas saíssem do local, segundo Katia. A ação da polícia foi criticada pelos organizadores do ato. ;É um aparato repressivo muito grande;, afirmou.

Integrante do Bloco de Lutas, articulação que liderou as principais manifestações contra o aumento da tarifa de transporte público em Porto Alegre em 2013, Cláudia Favoro disse que ;o aparato repressor que a gente viu hoje eu nunca tinha visto na história. Nosso objetivo não é enfrentar a polícia, é conseguir fazer a denúncia e dialogar com a população para entender um pouco o que está ocorrendo no país;.

Favoro apontou a violência policial e a remoção de famílias por causa de obras da Copa do Mundo como duas das principais críticas feitas pelos movimentos sociais à organização do Mundial. ;Na Vila Dique, comunidade que remanesceu da duplicação da pista do aeroporto, cerca de 600 pessoas permanecem sem nenhum serviço público;, afirmou. De acordo com Favoro, que é arquiteta, a duplicação da via estava prevista na Matriz de Responsabilidade da Copa, mas teve que ser paralisada após estudo geológico apontar a inviabilidade da obra. Cerca de 200 pessoas removidas desde 2009 foram reassentadas a cerca de 30 quilômetros da comunidade, enquanto parte permanece no local.

Apesar do confronto, as duas organizadoras do ato disseram que os movimentos continuarão saindo às ruas para protestar. O próximo ato está marcado para a segunda-feira, 23, dia de jogo da Seleção Brasileira com Camarões, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. No último dia 12, outro protesto em Porto Alegre terminou com conflito entre policiais e manifestantes.