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Pesquisa revela que mulheres negras estão fora do cinema nacional

Apesar de ser a maior parte da população feminina do país (51,7%), as negras apareceram em menos de dois a cada dez longas metragem entre os anos de 2002 e 2012

postado em 06/07/2014 10:02
As mulheres negras* não estão nas telas de cinema, nem atrás das câmeras. Pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que pretas e pardas não figuraram nos filmes nacionais de maior bilheteria. Apesar de ser a maior parte da população feminina do país (51,7%), as negras apareceram em menos de dois a cada dez longas metragem entre os anos de 2002 e 2012. Além disso, atrizes pretas e pardas representaram apenas 4,4% do elenco principal de filmes nacionais. Nesse período, nenhum dos mais de 218 filmes nacionais de maior bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista.

[SAIBAMAIS]Coordenada pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, um dos mais renomados centros de estudos de ciência política na América Latina, a pesquisa A Cara do Cinema Nacional sugere que as produções para as telonas não refletem a realidade do país, uma vez que 53% dos brasileiros se autodeclaram pretos ou pardos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O prejuízo, na avaliação das autoras do estudo, é a influência de determinados valores sobre a audiência.

;Pelos dados, a população brasileira é diversa, mas essa diversidade não se transpõe para ambientes de poder e com maior visibilidade;, disse uma das autoras, a mestranda Marcia Rangel Candido. Ela acrescenta que, além da ;total exclusão; nos cargos técnicos, a representação no elenco está limitada a estereótipos associadas à pobreza e à criminalidade. ;As mulheres brancas exercem vários tipo de emprego, são de várias classes sociais, a diversidade é maior;, destaca.

A doutoranda Verônica Tofte, coautora da pesquisa, diz que a baixa representatividade de mulheres em postos mais altos do cinema - elas ocupam 14% dos cargos de direção e 26% dos postos de roteiristas entre os filmes mais vistos -, além da invisibilidade das negras no elenco, são distorções da sociedade. ;A ausência de mulheres, principalmente as negras, nesses papéis gera baixa representação e reproduz uma visão irreal do Brasil.; De acordo com a pesquisa, nenhuma das diretoras ou das roteiristas entre os filmes pesquisados era negra.

Para chegar ao perfil racial, a pesquisa comparou imagens de 939 atores, 412 roteiristas e 226 diretores de filmes, excluindo documentários e filmes infantis. ;Usamos um modelo de identificação em que o pesquisador é que define o grupo racial ao qual pertence o sujeito;, esclareceu Marcia. Na classificação, para a comparação, foi utilizada uma escala de fotos de oito indivíduos, do mais branco para o mais preto, estabelecida em trabalhos científicos anteriores.

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A lista dos filmes mais vistos no período é da Agência Nacional do Cinema (Ancine), organização que, na avaliação do premiado cineasta negro Joel Zito Araújo, deveria ter um papel ativo na promoção da diversidade no audiovisual. Ao avaliar a pesquisa do Iesp, ele disse que a agência precisa atuar. ;Somente quem governa, que tem poder de criar políticas públicas, é que pode criar paradigmas para a nação e resolver essa profunda distorção;, disse.

Apesar de ter a função de fomentar e regular o setor, procurada, a Ancine informou que ;não opina sobre conteúdo dos filmes, elenco ou qualquer coisa do tipo;.

* Convencionou-se chamar negros a soma dos grupos populacionais preto e pardo, seguindo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

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