postado em 15/07/2014 09:03
Um ano atrás, o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza saiu de casa na Rocinha, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro, detido por policiais militares da Unidade de Policia Pacificadora (UPP), e nunca mais voltou. Nessa segund-feira (14/7), o desaparecimento dele foi lembrado em uma missa celebrada no bairro. Parentes e amigos esperam que o Tribunal de Justiça dê o veredito sobre o caso, que tem 25 policiais militares acusados de tortura e do sumiço de Amarildo, cujo corpo nunca foi encontrado. O julgamento está na fase final.;Acreditamos que, pelo menos, nesta hora, da celebração, temos uma tentativa de conforto, porque conforto mesmo nunca teremos. Esperamos poder enterrá-lo um dia, porque, quando a gente não enterra, temos a sensação de que a pessoa ainda não se foi;, disse a sobrinha da vítima Michele Lacerda, que participou do ato católico. Para ela, a condenação dos envolvidos é a chance de encontrar o corpo da vítima e reaver a dignidade da família, acredita.
Anderson Dias, um dos filhos de Amarildo, diz que esse um ano não diminuiu a tristeza e o rancor sobre a brutalidade do ocorrido. ;Nunca imaginei que alguém da minha família fosse ser assassinado assim, igual fizeram com meu pai. Ninguém merece ter um fim desses;, declarou. Segundo as investigações policiais, Amarildo morreu sob tortura, na sede da UPP. Ele passou por sessões de espancamento e sufocamento. Foi declarada morte presumida.
[SAIBAMAIS]A família cobra indenização do Estado por danos morais e materiais, além de tratamento psicológico. Como o atendimento nos postos de saúde são feitos durante o horário comercial, muitos parentes ficam impossibilitados de comparecer. De acordo com o advogado deles, João Tancredo, o governo do estado paga uma pensão de R$ 724, que está desatualizada e precisa ser revista. ;Estamos com processo civil;, lembrou.
Tancredo aproveitou também para voltar a denunciar perseguição da família de Amarildo, pela polícia, na comunidade, e disse que a viúva da vítima tem sofrido gravemente. ;A Beth [Elisabeth Gomes da Silva, viúva] e seus dois filhos mais velhos respondem todos por desacato. Querem levar os meninos para becos, não se sabe o porquê, e eles reagem. Já a Beth vê um policial e pede o corpo do marido, [isso] é razoável.;
Anderson, entre os filhos mais jovens do ex-ajudante de pedreiro, conta que as provocações são rotina e que procura ;ficar frio;. ;Direto, quando os policiais nos veem jogam piadinhas, olham de cara feia, querendo que a gente erre no erro deles. Mas o lance é deixar eles provocarem e correr atrás do nosso direito.;
O inquérito policial militar que investigava a conduta dos PMs no caso concluiu, há poucos dias, que os militares devem responder ao processo na Justiça Comum. A Corregedoria Interna, que também analisa os fatos, pode determinar, a qualquer momento, a expulsão deles da corporação. A PM não comentou as denúncias de perseguição à família de Amarildo.