postado em 22/07/2014 19:10
Em reunião realizada na Agência Nacional de Águas (ANA), em Brasília, na tarde desta terça-feira (22/7), especialistas debateram a necessidade de adotar medidas para reduzir o consumo de água em São Paulo, por causa da situação crítica do Sistema Cantareira. A principal ideia é determinar que quem gastar mais, pague mais caro pela água.O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, disse que é preciso adotar medidas para preservar um volume no Cantareira que permita chegar ao período de chuvas com alguma segurança. Segundo ele, houve recomendações dos técnicos para a adoção de instrumentos econômicos para reduzir a demanda, como a tarifa progressiva. ;Ou seja, quem não reduzir ou quem aumentar o seu consumo teria sua tarifa aumentada significativamente;, disse.
[SAIBAMAIS]O governo de São Paulo já adotou a concessão de um bônus para quem gastar menos água, mas, segundo o diretor da ANA, a avaliação é que esse instrumento pode ser insuficiente. ;A combinação desses dois instrumentos, um de premiar a economia e outro de penalizar o aumento do consumo, poderiam provocar uma redução na demanda de água na Região Metropolitana de São Paulo;, disse. Andreu esclareceu, no entanto, que essas medidas só podem ser tomadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), e que a ANA não tem competência para fazer recomendações à empresa.
Para o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, o consumidor vai ter que fazer a sua parte, pois a situação é gravíssima. ;Não parece que as pessoas entenderam a situação, tem lava rápido funcionando, pessoas jogando água nas calçadas. Temos que reduzir ao máximo esse consumo, e as pessoas entendem no bolso. Algo é precioso quando é caro. O ouro é caro, a água terá que ser cara, para as pessoas entenderem;, disse.
Outra ideia debatida é reduzir ainda mais o volume de água que é retirado do sistema. O volume já foi reduzido de 31 metros cúbicos (m;) por segundo para 19,7 m; por segundo, e de acordo com Andreu, pode chegar a 14 m; nos próximos meses, dependendo do volume de chuvas. ;A quantidade de água que está chegando no reservatório é muito pequena, e a proposta é que tenha a mesma correspondência, ou seja, uma redução progressiva da retirada de água do Sistema Cantareira;, disse Andreu.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que também participou da reunião, disse que essa é a maior crise já vivida no histórico do Sistema Cantareira. Segundo ela, técnicos do Ministério da Ciência e Tecnologia apresentaram dados que mostram que a chegada do fenômeno El Niño ao país não é garantia de chuvas na região. Ela também defendeu que sejam adotadas ações para a redução do consumo, como o aumento da tarifa para quem consumir mais. ;O governo de São Paulo terá que trabalhar, de acordo com o cenário de afluência de chuvas e de água, quais são as novas medidas para poder trabalhar a segurança hídrica do reservatório. A situação está se agravando, tem que tomar novas medidas;, disse.
A hipótese de um racionamento de água em São Paulo, no entanto, não foi recomendada pelos especialistas que participaram da reunião. Segundo Braga, o racionamento atinge principalmente as pessoas mais pobres, porque estão nos locais mais afastados, onde a água não chega. Além disso, há risco de contaminação da água se os dutos ficarem vazios por muito tempo.
A reunião, que foi convocada pela ANA, não teve a participação de representantes do governo de São Paulo. Participaram do encontro pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representantes de organizações ambientais como SOS Mata Atlântica, WWF e The Nature Conservancy (TNC).
Hoje (22), o volume de água do Sistema Cantareira caiu 0,2 ponto percentual, passando de 17%, registrado ontem (21), para 16,8% nesta terça. Recentemente, a ANA prorrogou o direito de uso do Sistema Cantareira pela Sabesp para 31 de outubro de 2015.
Com a estiagem e a gradual baixa na capacidade de armazenagem, desde o dia 16 de maio, a Sabesp passou a usar a água da reserva técnica. O Sistema Cantareira é responsável pelo abastecimento de 9 milhões de consumidores atendidos pela Sabesp, em parte da capital paulista e em mais dez municípios. O sistema é alimentado por cinco bacias hidrográficas, entre as quais a do Alto Tietê.