Brasil

Ariano e o movimento de inclusão da cultura popular

Movimento Armorial reuniu artistas pernambucanos na empreitada de misturar o popular ao erudito, nos anos 1970

Diário de Pernambuco
postado em 23/07/2014 18:27
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Música, artes cênicas, literatura, artes plásticas e cinema. Ariano Suassuna reuniu, nos anos 1970, uma brigada de artistas pernambucanos em torno de uma ideia: misturar a arte erudita com a do povo. Batizou essa mistura de Movimento Armorial. "O armorial significa a coleção de insígnias de um povo. No Brasil, a heráldica, que é a arte que cuida das insígnias, é uma arte extremamente popular. Você vê isso nas camisas e bandeiras dos clubes de futebol, nas cores vermelhas e azuis dos pastoris. Como nós procuramos a criação de uma arte erudita brasileira baseada na arte popular, então batizei o movimento de armorial", explicou em entrevista concedida, em 1996, ao programa Metrópolis, da TV Cultura.

Compartilharam o ideal proposto por Ariano Suassuna nomes como: o escritor Raimundo Carrero, os artistas plásticos Gilvan Samico e Jota Borges, o cineasta Jomard Muniz de Britto. Nas artes cênicas, a bailarina Maria Paula Costa Rêgo e o ator, bailarino e multi-instrumentista Antonio Carlos Nóbrega. "Foi muito significativo conhecê-lo naquela idade, nos anos 1970. Desde então, a presença, tanto na minha vida de artista quanto na pessoal, só foi crescendo", revelou Nóbrega.

Movimento Armorial reuniu artistas pernambucanos na empreitada de misturar o popular ao erudito, nos anos 1970

Para o pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Amílcar Bezerra, o modelo de valorização de cultura proposta por Ariano Suassuna remete aos conceitos estéticos do filósofo russo Mikhail Bakhtin, teórico da cultura europeia. Ambos os autores, segundo Bezerra, combatiam os preconceitos da sociedade para colocar a cultura popular dentro de um contexto próprio, mantendo o significado original.

Enquanto Bakhtin analisava a produção artística da França do século 15, Ariano Suassuna se preocupava em colocar no mesmo patamar de valor a arte popular e a erudita. Há um cuidado de evitar a ;degeneração; da cultura contemporânea em meio ao "turbilhão da modernidade". Muito dessa maneira de pensar estava associada à admiração de Ariano pela literatura medieval e renascentista.

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