Professor, dramaturgo, romancista, roteirista, poeta e showman, se a literatura estivesse envolvida, Ariano Suassuna dava conta. Quando subia ao palco para sua aula-espetáculo, gostava de avisar que quem viu uma, viu todas, mas não era bem assim. A capacidade de comunicar e hipnotizar o público era sempre surpreendente. Assim como é surpreendente o fato de suas narrativas se prestarem tão bem às adaptações televisivas e cinematográficas.
Só o Auto da compadecida ganhou quatro versões para as telas. A primeira foi em 1969 e chegou ao cinema dirigida por George Jonas, com Regina Duarte no papel da Compadecida. Em 1987, Dédé, Didi, Mussum e Zacarias fizeram a sua versão em Os trapalhões no Auto da compadecida, com Renato Aragão no papel de João Grilo, mas foi a minissérie feita pela Rede Globo em 1999 a adaptação mais marcante da obra. Com Matheus Nachtergaele no papel de João Grilo e Selton Melo como Chicó, a série de quatro capítulos teve direção de Guel Arraes e Fernanda Montenegro no papel de Nossa Senhora.
O sucesso da minissérie foi tão grande que, no ano seguinte, a história de Chicó e João Grilo ganhou as telonas e chegou aos cinemas como um dos filmes brasileiros de maior bilheteria do início do século 21, visto por mais de dois milhões de pessoas. No roteiro escrito por Arraes, Adriana Falcão e João Falcão, além das peripécias de Chicó e João Grilo na história original, foram introduzidos elementos de outras histórias de Suassuna, como O santo e a porca e Torturas de um coração. Suassuna gostou da adaptação e, na época, comentou que Guel Arraes soube manter o espírito da obra.
Mescla
Em 2007, foi a vez de Romance d;A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta ganhar sua versão televisiva em um dos mais refinados produtos da teledramaturgia na televisão aberta brasileira. Com direção de Luiz Fernando Carvalho, a epopeia sertaneja da busca do rei salvador foi contada em cinco capítulos nos quais o diretor recuperou a imagética da mescla proposta por Suassuna no texto.
Na televisão, foi possível acompanhar o perfeito casamento entre a poesia de inspiração medieval, o universo do romanceiro popular e o refinamento estético do texto do paraibano. Em entrevista da época, o roteirista Braulio Tavares, responsável pela adaptação, contou ao Correio que a obra do paraibano possuía três aspectos excelentes para um filme: o enredo e suas situações movimentadas, os personagens excêntricos e a visualidade, já que Suassuna imaginava tudo muito cinematograficamente. Sobre o escritor, Tavares publicou ABC de Ariano Suassuna, um guia para mergulhar na obra do autor.
Seu último romance foi Fernando e Isaura, escrito em 1956. A poesia também tinha lugar cativo no mosaico de produções de Suassuna. Ele publicou o primeiro poema em outubro de 1945, no Jornal do Commercio. Nos versos de Noturno, que serviram de base para Antônio José Madureira compor a primeira música do primeiro disco do Quinteto Armorial, em 1970, está a síntese do pensamento do escritor.
O repente, o cordel, o circo e o memulengo foram muito importantes na dramaturgia do escritor, um universo que, no sertão de Taperoá, eram bastante comuns. O circo, aliás, foi fundamental na formação do autor, assim como a biblioteca improvável que o pai construíra e que servira de iniciação literária e fantástica na infância.
O primeiro mamulengo que Suassuna viu, no mercado de Taperoá, virou depois o negro Benedito de A pena e a lei, de 1959. De acordo com Chico Pelucio, do Grupo Galpão, a dramaturgia do paraibano foi fundamental para o teatro no Brasil. ;Ele renovou e enriqueceu a literatura e a dramaturgia brasileiras com uma coleção de obras que vai desde a tragédia até os clássicos. Ele usa essa estrutura e mergulha nas raízes brasileiras para produzir obras com essa cara de Brasil;, diz Pelucio.
Obras escolhidas
Na dramaturgia
Uma Mulher Vestida de Sol (1947)
Auto de João da Cruz (1950)
Auto da Compadecida (1955)
Farsa da Boa Preguiça (1960)
Na ficção
Romance d;A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971)
As Infâncias de Quaderna, folhetim semanal, (1976-77)
Na poesia
Sonetos com Mote Alheio (1980)
Sonetos de Albano Cervonegro (1985)
Seleta em Prosa e Verso (1974)