Brasil

Com morte de Mourão, astronomia nacional perde seu principal interlocutor

Para o chefe da Divisão de Atividades Educacionais do Observatório Nacional, Carlos Veiga, a grande contribuição de Mourão para o Brasil foi a divulgação que ele fez da astronomia para as pessoas comuns

postado em 28/07/2014 18:46
A morte de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, na última sexta-feira (25/7), representou para a astronomia brasileira a perda de seu maior interlocutor, de acordo com a pesquisadora e historiadora do Museu de Astronomia (Mast), Christina Helena Barbosa. Segundo ela, ;O Brasil perde um cientista, um astrônomo, um interlocutor da ciência com a sociedade. Não há ninguém como ele no Brasil. Ninguém que possa, com a competência e habilidade que ele tinha, fazer o que ele fazia, sempre empenhado em montar acervo e em estimular e divulgar a pesquisa histórica de sua ciência;.

Christina Helena ressaltou que Mourão foi da primeira geração de astrônomos brasileiros que se profissionalizaram com o atual grau de especialização. ;Hoje não se imagina especialistas sem doutorados. Mas, na época, isso não era comum. Sequer havia pós-graduação em astronomia. Isso, de fato, mudou a cara da astronomia no Brasil;, disse a pesquisadora.

Ela lembrou que Mourão fez parte de um grupo conhecido por Quatro Cavalheiros: ;jovens cientistas contratados no final da década de 50 pelo Observatório Nacional, que deram verdadeira mexida no observatório, com seus trabalhos e pesquisas. No caso dele, especificamente os trabalhos sobre estrelas duplas - desenvolvidos posteriormente na Bélgica - e sobre órbitas dos asteroides. São trabalhos que nos ajudam a compreender a natureza e a melhor conhecer o universo, as estrelas e a energia que nele existe;, acrescentou.

Para o chefe da Divisão de Atividades Educacionais do Observatório Nacional, Carlos Veiga, a grande contribuição de Mourão para o Brasil foi a divulgação que ele fez da astronomia para as pessoas comuns. ;Graças a sua divulgação e ao bom nível como ela era feita por ele, a astronomia passou a ser conhecida no Brasil. Ele popularizou essa ciência como ninguém nunca o fez em nosso país;, disse. Segundo ele, depois de ter ficado quatro anos na Bélgica (de 1962 a 1967), Mourão retornou ao Brasil para dar sequência ao programa de observação do céu. Com a experiência adquirida no exterior, foi Mourão quem estabeleceu a observação de estrelas e asteroides a partir do Rio de Janeiro.

;Além de socializar a ciência, ele deixou pontos de partida para as gerações posteriores. A astronomia é uma ciência inquietante, porque cada resposta suscita uma série de novas perguntas. Isso, certamente o incomodava, como incomoda a todos os astrônomos. É muito difícil conviver com perguntas do tipo: qual é a origem do universo? Como o ser humano chegou e evoluiu? Existem outras civilizações? Qual foi a energia que resultou na construção do universo? São questões para divã de psiquiatra, mas que geram interesse nas crianças. Em muitos casos é o primeiro estímulo a se desenvolver nos estudos, além de ser complemento às aulas de física e geometria;, argumentou Veiga.



;É importante divulgar isso para a população, e essa foi a missão dele: "Divulgar esse papo ;maluco; a toda a população e fazer com que a sociedade participe disso. É fazer as pessoas entenderem que não há paranormalidade nos fenômenos ainda inexplicados;, completou.

Mourão estava internado há uma semana no hospital Quinta D;Or, no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, em decorrência de problemas pulmonares e de um acidente vascular cerebral, de acordo com informação repassada à Agência Brasil por colegas seus do Mast. O enterro foi no sábado, no Cemitério do Cajú.

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