postado em 28/07/2014 19:45
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) ouve, até a próxima sexta-feira (1;), 21 pessoas envolvidas na repressão durante a ditadura militar. Eles são apontados como tendo praticado graves atos de violações de direitos humanos, como tortura, morte e desaparecimentos. Do total, 20 ex-agentes foram convocados a depor e uma testemunha foi convidada, para dar suas versões sobre os acontecimentos, antes da comissão concluir o relatório, previsto para ser apresentado em 10 de dezembro deste ano.Entre os temas a serem tratados estão a Casa da Morte, em Petrópolis, o atentado ao Riocentro, os desaparecimentos de Rubens Paiva e Stuart Angel e torturas de brasileiros no Estádio Nacional do Chile, dentre outros. Até o momento, foram colhidos dois depoimentos. Na sexta-feira, Euler Moreira de Moraes falou sobre casos de tortura e morte na 1; Companhia da Polícia do Exército da Vila Militar, no Rio de Janeiro, local da morte de Chael Charles Schreier e Severino Viana Colou.
Hoje (28), foi a vez de Ubirajara Ribeiro de Souza, que preferiu não responder aos questionamentos, orientado pela advogada Renata Alves de Azevedo Fernandes da Cruz. De acordo com ela, ;todos os depoentes que vieram colaborar com a comissão estão denunciados pelo Ministério Público, então nossa orientação a partir de agora é para ficar calado;. O depoimento de Jacy Ochsendorf e Souza também estava previsto para hoje, mas foi reagendado para amanhã, às 10h.
[SAIBAMAIS]
De acordo com o presidente da CNV, Pedro Dallari, Ubirajara é apontado como integrante das equipes do centro de tortura que ficou conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis, onde muitas pessoas perderam a vida. ;Ele era um torturador, e foi reconhecido pela única sobrevivente da Casa da Morte, Inês Ettiene Romeu, que depôs de maneira muito clara, registrando diálogos que teve com o senhor Ubirajara;.
Dallari lamenta a falta de colaboração do depoente, mas afirma que a presença dele já é importante. ;A comissão está identificando que há orientação de advogados de depoentes para que não se manifestem para que não sejam incriminados. A comissão lamenta, porque a gente não tem o poder de condenar ninguém, de julgar ninguém, tem apenas o compromisso com a verdade e a memória. Na medida em que as pessoas não falam, elas deixam de colaborar com isso, que é muito importante para a sociedade brasileira;.
Durante o depoimento, Dallari ressaltou que a oitiva era uma oportunidade para Ubirajara dar explicações para a sociedade brasileira e mostrar a sua versão dos fatos, já que o ex-agente apenas declarou que está sendo acusado há 40 anos. ;Eu sou inocente de todas as acusações, mas a verdade virá um dia, eu não tenho pressa;, disse Ubirajara ao final do depoimento.
Para amanhã, além de Jacy Ochsendorf, apontado como participante da farsa montada para simular o resgate do deputado Rubens Paiva por guerrilheiros, também estão previstos os depoimentos de Juradyr Ochsendorf e Souza, que foi remarcado; Nilton de Albuquerque Cerqueira, sobre o caso Riocentro e a Operação Pajuçara, no Araguaia; José Benedito Montenegro de Magalhães Cordeiro, sobre os desaparecimentos de Nego Fubá e Pedro Fazendeiro; Mauro Magalhães, sobre a Casa da Morte, em Petrópolis; Nelson da Silva Machado Guimarães, ex-juiz da 2; auditoria da Justiça Militar Federal de São Paulo e ex-ministro do Superior Tribunal Militar; Ailton Guimarães Jorge, o capitão Guimarães, sobre o Doi-Codi do Rio de Janeiro e a 1; Cia da Polícia do Exército da Vila Militar; Riscala Corbage, também sobre o Doi-Codi; e o convidado Humberto Costa Pinto, empresário que falará sobre corrupção envolvendo órgãos e agentes da repressão.
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Também foi convocado para depor ao longo da semana o general reformado José Antônio Nogueira Belham, que comandava o Destacamento de Operações do Exército em janeiro de 1971, quando o deputado federal Rubens Paiva foi morto. Ele já havia sido convocado para depor em Brasília, mas não compareceu alegando que estava no Rio de Janeiro.
Os depoimentos de Riscala Corbage e Celso Lauria, que atuaram no Doi-Codi, também são a segunda tentativa. Corbage não foi localizado na outra oportunidade e Lauria apresentou uma declaração do Hospital Central do Exército. Na sexta-feira, os membros da CNV devem apresentar um balanço dos depoimentos.