postado em 31/07/2014 10:02
A principal fonte de poluição da Baía de Guanabara é o esgoto doméstico dos 15 municípios que ficam na região e que é despejado nos rios e no espelho d;água sem tratamento adequado. A constatação é compartilhada pelo Comitê de Bacia da Baía de Guanabara, por especialistas em recursos hídricos, pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e pelo Ministério do Meio Ambiente.O professor de recursos hídricos Paulo Canedo, do Instituto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), ressalta que vazamentos de óleos também influenciam, mas em proporção bem menor do que o esgoto e o lixo.
;Os vazamentos de óleo são a terceira maior fonte poluidora. Quando ocorre, é visto como um desastre, chama a atenção e aparece nas manchetes nos jornais. Mas isso só acontece porque nós nos acostumamos a viver dentro de cocô, porque a precariedade das nossas águas era para estar na primeira página de todos os jornais todo santo dia;, criticou.
Para ele, não adianta tentar melhorar todos os indicadores de poluição de uma vez, é necessário estabelecer prioridades. ;Quando a gente colocar esse dois planos [esgoto e lixo] a níveis, eu diria, nem aceitáveis, mas para não ficar com vergonha, a gente começa a falar do terceiro, a gente vai falar também do PH [da água], do óleo. Como falar de mais fatores se a gente não consegue resolver o esgoto e o lixo?;, questiona o professor, que também integra a Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH).
O secretário executivo do Comitê de Bacia da Baía de Guanabara, Alexandre Braga, destaca que outros problemas também contribuem para a poluição. ;Uma dragagem inadequada que deixa um sedimento totalmente poluído também afeta, o chorume dos antigos lixões afeta. Mas, com certeza, o esgoto que a gente está lançando na baía é o grande peso nas nossas costas;, diz.
Canedo destaca que a coleta do esgoto não resolve o problema. ;Não basta coletar, tem que coletar e tratar o esgoto adequadamente, para que os resíduos líquidos que sobram da estação de tratamento sejam pouco poluentes para que possam ser jogados na baía. E a parte sólida, que são os rejeitos das estações de tratamento, o chamado lodo da estação de tratamento, deve ser levada para aterros sanitários.;
A principal iniciativa do Plano Guanabara Limpa, da Secretaria de Estado do Ambiente, é o Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam). O Psam prevê a aplicação de R$ 1,5 bilhão, até 2016, em obras de esgotamento sanitário e em projetos de saneamento nos 15 municípios do entorno da Baía de Guanabara: Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São João de Meriti, São Gonçalo e Tanguá.
De acordo com os dados do site Guanabara Limpa, a meta é levar, até 2018, os serviços de saneamento básico para 80% da população fluminense. Em 2013 a coleta de esgoto chegou a 40%, cerca de três vezes mais do que há sete anos, quando apenas 12% da população era atendida.
No início de julho, a SEA lançou as obras do sistema de coleta e construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Alcântara, para atender cinco bairros de São Gonçalo, com 230 mil pessoas. De acordo com o secretário Carlos Portinho, serão investidos R$ 355 milhões, com previsão de entrega até o fim do ano.
;É uma região altamente adensada, com uma necessidade urgente de rede de esgoto e tratamento. Aqui, em Alcântara, talvez seja uma das maiores obras do estado de esgotamento sanitário. Nós vamos avançar com a interligação das redes das residências e a conclusão da estação de tratamento, o que vai beneficiar tanto a população quanto a Baía de Guanabara que hoje recebe muitos desses resíduos.;
Também estão sendo construídas, como parte das ações na área de saneamento, cinco unidades de Tratamento de Rio (UTRs), nos rios Sarapuí, Pavuna-Meriti, Imboaçu, Irajá e no Canal do Cunha, com previsão de entrega até o fim de 2014. A UTR utiliza um método físico-químico para retirar cerca de 80% da carga orgânica na foz dos rios. Já existem UTRs no Rio Carioca (no Aterro do Flamengo) e no Piscinão de Ramos.