postado em 31/07/2014 10:44
A promessa do governo do estado do Rio de despoluir 80% da Baía de Guanabara até 2016, conforme compromisso assumido com o Comitê Olímpico Internacional para sediar as Olimpíadas, não vai ser cumprida. A nova previsão é atingir a meta de 80% da população fluminense com acesso a serviços de saneamento básico em 2018 - o esgoto doméstico é a principal fonte de poluição da baía.Em meio a críticas sobre a qualidade da água, Baía de Guanabara sediará o primeiro evento-teste para as Olimpíadas de 2016(Arquivo Agência Brasil)
[SAIBAMAIS]Outras medidas estão sendo tomadas para melhorar os índices de qualidade das águas da Baía de Guanabara. Mas, para o secretário-executivo do Comitê de Bacia da Baía de Guanabara, Alexandre Braga, a despoluição completa vai levar pelo menos 15 anos e depende de um trabalho conjunto da sociedade com os três níveis de governo. O comitê foi criado em 2006, por decreto estadual, com a missão de ;integrar os esforços do Poder Público, dos usuários e da sociedade civil, para soluções regionais de proteção, conservação e recuperação dos corpos de água, viabilizando o uso sustentado dos recursos naturais, a recuperação ambiental e a conservação;.
;O esgoto, a gente quer longe da nossa casa, e ele acaba dentro da Baía de Guanabara. O nosso lixo, a gente quer que ele saia de perto da nossa casa, então ele acaba indo para um corpo receptor final. Então o nosso grande desafio é pensar na coletividade. Não é uma coisa simples, temos que sair do quadrado, o problema não está nos governantes, está em cada um de nós;, avalia.
De acordo com a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), todos os lixões em torno da Baía de Guanabara já foram fechados. Segundo o órgão, o chorume que deixou de ir para a água corresponde ao volume de ;um Maracanã por semana;. Outra iniciativa visa a recolher o lixo flutuante nas águas. Nos primeiros dias de 2014, começaram a atuar os três primeiros ecobarcos das dez unidades previstas até o fim do ano.
O diretor de operações da empresa Ecoboat, Lourenço Ravazzano, explica que cada embarcação recolhe, em média, 300 quilos de lixo por dia. ;O lixo flutuante, em geral, aporta próximo a um entorno, que pode ser uma marina, uma murada, um cais de porto ou um iate clube. Portanto, precisa de uma embarcação de pequeno porte para penetrar nos locais de difícil acesso.;
Ecobarreiras também foram instaladas na foz de rios, para reforçar a limpeza. A expectativa é que sejam recolhidas das águas da Baía de Guanabara 15 toneladas de lixo flutuante por mês.
Outro avanço é o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), assinado em 2011 e com 24 ações previstas até 2017. É o maior TAC assinado na área ambiental no país e prevê o investimento, pela Petrobras, de R$ 1 bilhão para reduzir as emissões de poluentes e tratar 48 milhões de litros de efluentes industriais. Com isso, mais de 40% da poluição da Reduc na Baía de Guanabara, tanto a química, a orgânica e a oleosa, foram eliminadas.
Este ano, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) começou a divulgar boletins trimestrais da qualidade das águas dos rios. Dos 50 afluentes que fazem parte da Baía de Guanabara, apenas um está com as águas em boas condições e seis aparecem com qualidade média, segundo o último documento, apresentado em março com dados de janeiro e fevereiro. O monitoramento é feito em 62 pontos.
Apesar da questionável qualidade das águas na Baía de Guanabara, houve melhora dos índices na última década. De acordo com o professor de recursos hídricos Paulo Canedo, do Instituto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), o pico de poluição foi há cerca de 15 anos.
;Nós já passamos pelo pior. A qualidade da água está melhorando porque algum tratamento está ocorrendo nos rios, pouquíssimo, muito aquém do que deveria, mas alguma coisa ocorre e essa melhora se reflete na Baía de Guanabara.;
O professor, que também integra a Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), explica que o formato da baía, com uma entrada mais fechada, dificulta a circulação da água e, portanto, a renovação e limpeza da área.
Outras ações do governo dentro do Plano Guanabara Limpa envolvem o plantio de manguezais e mudas de árvores nativas da Mata Atlântica, limpeza de praias e recuperação de canais.
Para a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o problema só será resolvido se a questão entrar na agenda de todos os governos pelos próximos 20 anos, com a cobrança da sociedade para que isso ocorra. ;Não é trivial, nenhum país do mundo que resolveu o problema de poluição de baías ou de rios fez isso da noite para o dia. E tem que ter uma pactuação que transcenda os governos, tem que ter uma visão que transcenda quatro anos, e tem que ter uma determinação da sociedade de que isso esteja na agenda de todos os governantes nos próximos 20 anos, não pode fazer disso um assunto que para e começa, que vai e volta.;
Em dezembro, o governo do Rio de Janeiro assinou um termo de cooperação técnica com o estado de Maryland, nos Estados Unidos, para melhorar a governança do programa de despoluição da Baía de Guanabara. De acordo com a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) o sucesso alcançado na Baía de Chesapeake, no Nordeste dos Estados Unidos, vai servir de inspiração para o trabalho no Brasil. Além disso, haverá troca de experiência em sistemas de monitoramento para parâmetros como a água, a terra e o ar.
Os primeiros sinais da poluição da Baía de Guanabara surgiram na década de 1960, fruto do desgaste ambiental causado pela ocupação desordenada do entorno do espelho d;água, com manchas de óleos nas praias.