Brasil

Desigualdade de gênero começa na divisão do trabalho em casa, diz pesquisa

O levantamento mostra que cerca de 14% das meninas entre 6 e 14 anos trabalham ou já trabalharam para terceiros

postado em 11/09/2014 08:33
Quando a tarefa é lavar louças, 76,8% das meninas cumprem o trabalho e apenas 12,5% dos meninos fazem o mesmo

Enquanto 81,4% das meninas arrumam a própria cama, apenas 11,6% dos meninos o fazem. Quando a tarefa é lavar louças, 76,8% delas cumprem o trabalho e apenas 12,5% deles. Os dados são da pesquisa Por ser menina no Brasil: crescendo entre direitos e violências, do Instituto Plan Internacional, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), divulgada ontem. Na opinião dos pesquisadores, o levantamento mostra que a desigualdade de gênero já começa na distribuição dos afazeres domésticos. O levantamento vai além e mostra que cerca de 14% das meninas entre 6 e 14 anos trabalham ou já trabalharam para terceiros.

Mais de 37% das crianças entrevistadas prestam serviço na casa de outras pessoas, cuidando de crianças, fazendo faxina e outras atividades domésticas. Outras 17,5% contam que trabalham em estabelecimentos comerciais; 7% em atividades relacionadas à agropecuária ou à pesca e 6% em fábricas. Cerca de 5% das entrevistadas revelaram que ficam nas ruas vendendo objetos, recolhendo material reciclável, vigiando ou limpando carros. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíbe o trabalho de crianças com menos de 16 anos, salvo na condição de menor aprendiz a partir dos 14 anos e com o devido acompanhamento.

Para a gerente-geral da Plan Internacional no Brasil, Anette Trompeter, os números são alarmantes. ;O lugar de criança, de menina, não é no trabalho, é na educação. O trabalho externo e interno significa que as meninas estão tendo menos tempo para se aperfeiçoar na educação. Ou seja, mesmo que estejam matriculadas na escola, têm a responsabilidade de chegar em casa e fazer tarefas domésticas ou de trabalho. Não estão usando o tempo livre para estudar ou brincar;, analisa Anette. No caso das tarefas de casa, a diretora da organização defende que sejam compartilhadas com toda a família, tirando o peso de uma só pessoa.



É o que acontece na casa da funcionária pública Cláudia Coury, 49 anos. Ela tem dois filhos e os cria de forma igualitária. ;Aqui não tem diferenciação. Quando exijo alguma coisa, exijo dos dois. O horário para chegar em casa é o mesmo, a orientação sexual vai ser a mesma;, garante. Ian tem 12 anos e Júlia 17. A família tem uma empregada doméstica, mas, nos fins de semana, faz o serviço de casa. ;Estou criando a Júlia para ser uma mulher independente, para cuidar do próprio futuro e não ser subserviente a nenhum homem. E o Ian a respeitar as mulheres;, explica. De acordo com Cláudia, a opção é fruto da experiência de vida que ela mesma teve. ;Não aceitei a forma como fui criada, superei tudo e passei isso para eles;, afirma. Assim, a mãe espera que a criação reflita na vida adulta dos filhos e que eles se tornem pessoas bem resolvidas e vejam o mundo de forma igualitária.

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