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Ao menos cinco alertas poderiam ter evitado queda de viaduto em BH

Perícia mostra que em várias ocasiões prefeitura e empresas tiveram oportunidade de perceber e corrigir erros que levaram ao desabamento da estrutura

Projetistas, executores e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tiveram pelo menos cinco chances de notar erros evidentes de engenharia na alça sul do Viaduto Batalha dos Guararapes, que caiu sobre a Avenida Pedro I, e tomar atitudes que poderiam evitar as mortes de duas pessoas, um prejuízo milionário e meses de transtornos com o bloqueio da via e a demolição de toda a estrutura. É o que aponta o laudo finalizado no último dia 3 pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil, que avaliou as causas do desmoronamento da estrutura, em 3 de julho, durante a Copa do Mundo. Engenheiros ouvidos pelo Estado de Minas e o Ministério Público (MP) consideram que as principais fatores que levaram à queda do elevado, como cálculos equivocados, estruturas erguidas de forma mais frágil do que o necessário e falta de fiscalização na remoção dos escoramentos são falhas consideradas "grosseiras".



Por último, o laudo aponta que, quando as escoras começaram a ser retiradas, seria possível notar que a estrutura exercia grande força sobre esses anteparos, o que, segundo o documento, não é normal e demonstraria que essas peças suportavam o peso do viaduto e não poderiam ser removidas. Nesse ponto, os peritos sustentam que os engenheiros da Cowan e os fiscais da Sudecap ; que deveriam estar presentes na retirada do escoramento ; tiveram a última chance de evitar o desmoronamento do viaduto.

Ao fim, o documento resume os acontecimentos dizendo que ;o erro no dimensionamento da ferragem do bloco de fundação do pilar P3 pode ser apontado como o fator inicial; e que ;somado à falta de revisão dos projetos, à fiscalização ineficiente e à retirada do cimbramento (escoras) em condições que indicavam a necessidade de sua permanência culminaram na ocorrência do desabamento;. Para o professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da UFMG Fernando Amorim de Paula, doutor em cálculo e dimensionamento de estruturas, essa sequência de erros beira a omissão. ;Uma obra importante como essa, que envolve trecho com fluxo intenso de veículos, deveria ter sido revisada diversas vezes;, disse.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape), Frederico Correia Lima Coelho, o laudo não diz claramente que os cálculos errados causaram o desabamento, mas lista uma sucessão de fatores e omissões. ;Houve possibilidades de se tomar atitudes durante o tempo, por meio de revisões. Mas, pelo que o laudo aponta, não há na conclusão sobre qual o mais importante fator para o desabamento;, disse. Já o promotor que acompanha o caso, Eduardo Nepomuceno, não tem dúvida de que houve omissões. ;Há uma sucessão de erros graves e de oportunidades de se evitar prejuízos e mortes, que não foram evitados. O prejuízo estamos garantindo que sejam ressarcidos. Já as mortes e as responsabilidades criminais ainda dependem do inquérito da Polícia Civil;, disse.

Alertas ignorados

Confira as falhas apontadas pela perícia como determinantes para o desastre:

1. Revisão dos projetistas da Consol poderia ter detectado os cálculos estruturais errados que tornaram o viaduto mais fraco;

2. A Prefeitura de BH poderia ter conferido cálculos do projeto executivo antes de entregá-lo para que a empreiteira Cowan iniciasse a obra;

3. Técnicos da construtora Cowan deveriam ter revisado os números equivocados do projeto recebido antes de executar a obra;

4. Fiscais da PBH não detectaram alterações no projeto feitas pela Cowan, como a abertura de janelas na pista do viaduto e a falta de nata de cimento em estruturas que conferem reforço à obra;

5. Engenheiros da Cowan e fiscais da PBH poderiam ter impedido a retirada das escoras quando se mostraram presas ao viaduto, devido ao peso excessivo da construção mal dimensionada.