Brasil

Vítimas da ditadura militar visitam antigo cárcere em BH

Integrantes da Comissão Nacional da Verdade e ex-presos políticos farão hoje uma diligência no 12º Batalhão de Infantaria, em BH, apontado como local de torturas durante a ditadura

postado em 30/09/2014 10:11

Quartel do antigo 12º RI, que foi, segundo o Brasil Nunca Mais, palco de tortura de 74 pessoas Uma das principais investigações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) será feita nesta terça-feira (30/9) em Belo Horizonte. Integrantes da CNV, acompanhados de peritos e representante do Ministério Público Federal, fazem uma visita ao 12; Regimento de Infantaria do Exército (12; RI), palco de torturas cometidas pelos militares que comandaram o Brasil durante a ditadura, entre 1964 e 1985. Além da visita, que será acompanhada por três presos políticos da época torturados no local, a CNV convocou nove agentes da repressão para prestar depoimento na sede da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais (OAB-MG), na tarde de hoje.

Cinco deles atuaram na Polícia Civil de Minas Gerais, sendo três deles no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Dois atuaram na Polícia Militar mineira e um, militar do Exército, atuou no 12; RI. Um tenente-coronel reformado se dispôs a depor. O 12; RI, que atualmente é chamado de 12; Batalhão de Infantaria (12; BI), é apontado no dossiê Brasil nunca mais, elaborado em 1985, como palco de tortura de 74 pessoas.

[SAIBAMAIS]

Dois torturadores denunciados por dezenas de vítimas davam expediente no quartel. Um deles, Octávio de Aguiar Medeiros, depois de barbarizar nos porões, chegou a ser chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e postulou uma candidatura a presidente.

Medeiros, como ficou conhecido pelas vítimas, foi o responsável pelo inquérito do Comando de Libertação Nacional (Colina), um dos grupos em que a presidente Dilma Rousseff (PT) militou. O outro é o capitão Hilton Paulo Cunha Portella, que veio do Rio de Janeiro e atou no 12; RI em 1969 e 1970. Era conhecido pelo codinome de Doutor Joaquim e pelo menos 18 vítimas apontam que ele atuava com requintes de crueldade e sadismo.

Em novembro do ano passado, a CNV esteve no DOI-Codi de SP; em janeiro, na 1; Companhia de Polícia do Exército da Vila Militar do Rio; em maio, na Base Aérea do Galeão; e, na semana passada, a comissão esteve com ex-presos políticos no 1; Batalhão de Polícia do Exército, local onde funcionou o Doi-Codi do Rio.

No dia 14 de outubro, a CNV visitará o local em que funcionou o Doi-Codi do 4; Exército, no Recife. E, antes do fim do ano, fecha o roteiro com visita à Base Naval da Ilha das Flores, onde funcionou presídio mantido pela Marinha. O relatório final deve ser entregue 10 de dezembro, quando é comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos. O mandato da atual diretoria da CNV vai até 16 de dezembro.

RECONHECIMENTO


Pressionada pela CNV, em fevereiro deste ano, as Forças Armadas instauraram comissões de sindicância para investigar o uso das instalações militares para a prática de violações de direitos humanos, como tortura e assassinatos de presos políticos. Na semana passada, o ministro da Defesa, Celso Amorim, enviou um ofício à comissão reconhecendo, pela primeira vez, a ocorrência de desaparecimentos e mortes durante a ditadura militar.

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