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Polícia apura transtornos mentais no suspeito de ser o serial killer de GO

Tiago da Rocha assumiu a responsabilidade pela morte de 39 pessoas. Especialista detalha o trabalho e afirma que resultados são confiáveis

postado em 23/10/2014 06:01
Ao confessar 39 assassinatos e deixar a população de uma cidade estarrecida, o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26 anos, despertou curiosidade sobre o que leva uma pessoa a cometer tais atos. Ontem, uma psicóloga neurocientista se dispôs a ajudar a Polícia Civil de Goiás e, a partir de hoje, os investigadores começam a tentar entrar na mente do jovem. Ao mesmo tempo, pesquisadores e peritos que atuam na área comentam o caso e explicam como é o procedimento para identificar transtornos em homicidas do tipo.

Tiago da Rocha foi transferido nessa quarta-feira (22/10) para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia

O vigilante, preso no último dia 14, foi transferido ontem para o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital. Ele estava na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), sob responsabilidade de agentes da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH). Na saída, Tiago recebeu a escolta de 20 policiais. Ainda assim, no caminho, conseguiu agredir um fotógrafo com um chute do abdômen, no momento em que era colocado na viatura. De acordo com informações da corporação, ele estava muito nervoso pela manhã.

A única visita recebida por Tiago ontem, antes da transferência, foi da psicóloga e neurocientista Cássia Oliveira, que trabalha há 22 anos com casos policiais. Cássia ofereceu ajuda à polícia, que autorizou a conversa dela com o vigilante. A especialista falou com Tiago por duas horas em caráter informal. A análise de Cássia não fará parte do inquérito, mas servirá para orientar os investigadores no trato com o assassino confesso. Ao sair da delegacia, a neurocientista relatou que Tiago conseguiu explicar ;dentro das possibilidades dele;, a motivação para a série de homicídios. Ela disse ainda que não considera o homem um louco, embora acredite se tratar de um serial killer. ;Não vou dar um diagnóstico agora, mas não o considero um louco;, resumiu.

Ainda assim, a especialista classifica Tiago como um assassino em série. ;Sem dúvida. Isso já está confirmado, porém a dinâmica e a estrutura diferem dos psicopatas comuns;, explicou. ;Ele tentou me explicar de todas as formas, na linguagem dele, sobre uma força maior ; que nós vamos traduzir, dentro das técnicas;, contou Cássia sobre a razão dos crimes. Ela disse ainda que Tiago tentou contribuir ;o tempo todo; e até pediu que a psicóloga voltasse. ;Ele solicitou a minha vinda novamente. Pediu para me ver e para que eu o visite, porque ele quer falar mais. Vou atender ao pedido, já que ele está com essa receptividade.;

Análise técnica
Professor de psicologia do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Otávio de Abreu é perito cadastrado em algumas varas de Brasília. Ele explica que essas avaliações psicológicas podem ser pedidas tanto pelo juiz, quanto por uma das partes do processo ; promotor ou advogado. ;Em entrevistas clínicas, é possível levantar como ele pensa, fala, que tipo de emoções demonstra ou se não demonstra nenhuma, se é alguém frio. Tanto um psicólogo quanto um pisquiatra podem fazer avaliações do tipo;, explicou. Além do diálogo, o trabalho do profissional inclui outras técnicas.



A observação clínica faz parte do procedimento na área criminal. ;Testes expressivos e projetivos ajudam a entender como a personalidade é construída, estabelecida e se é de uma estrutura patológica, doentia;, disse o especialista. Essas técnicas fornecem dados sobre a pessoa para instrumentalizar o processo com certo grau de segurança, de acordo com Abreu. Ele conta que, quando é chamado por um juiz, o prazo geralmente é de 30 dias. ;Nesse tempo dá para fazer algo bastante criterioso. Cerca de quatro ou cinco entrevistas em dias diferentes e observação para fazer um corte horizontal na vida dele. Além disso, a gente usa duas ou três boas técnicas, testes;, enumera. De acordo com o professor, esse conjunto é capaz de gerar um resultado confiável.

O psicólogo não faz julgamentos sobre o caso de Tiago especificamente. Apesar disso, ele tem a competência para afirmar se ele tem personalidade anormal, patológica e se pode ser risco para a sociedade. ;Pela lei, existem condições psíquicas que tiram da pessoa a capacidade de juízo crítico, como o psicótico ou o esquizofrênico, que podem não ter capacidade de julgar o que é certo ou errado. É algo importante para a perícia resolver, se ele é responsável ou não. Pode ser que não seja preso, mas internado;, detalha o professor.

A lista dos crimes
Veja quais delitos Thiago Henrique Gomes da Rocha confessou:
; 14 assassinatos de mulheres ; crimes que estavam sendo investigados pela força-tarefa.
; 1 assassinato de um homem também investigado pela força-tarefa.
; 2 assassinatos de mulheres que não estavam entre os crimes investigados.
; 8 assassinatos de moradores de rua.
; 14 assassinatos de pessoas diferentes, entre homens e mulheres, de forma aleatória.

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