Brasil

Faltam agentes da PF para combate a tráfico crescente no Triângulo Mineiro

Pedro Ferreira
postado em 09/12/2014 09:45
Uberlândia ; O piloto de um avião bimotor com 265 quilos de cocaína tenta levantar voo ao perceber a presença de agentes federais na pista clandestina disfarçada em meio ao canavial. Começa uma perseguição desigual entre a viatura e a aeronave, que acaba sendo parada pelos policiais com uma colisão. Comandante e copiloto, que traziam a droga do Paraguai, são presos com três traficantes que aguardavam o pó escondidos na plantação. Em outro enfrentamento da polícia com uma quadrilha internacional de drogas, um envolvido é morto, quatro são baleados e o avião do bando explode na troca de tiros. Pode parecer sinopse de filme de ação, mas são cenas reais, que marcaram o Triângulo Mineiro nos últimos três anos e têm se tornado rotina em uma região que vem se consolidando como um dos principais entrepostos de cocaína do país.

O comércio ilegal enriquece quadrilhas que ostentam patrimônio investido em fazendas, aviões, lanchas e carros de luxo graças ao tráfico, estimado em dezenas de toneladas. Agentes da PF que atuam na área dizem que se esforçam ao máximo na guerra contra as organizações criminosas, mas reclamam da estrutura deficitária. ;Não consigo combater o tráfico de drogas com o efetivo que tenho. O governo federal só anuncia corte no orçamento e o tráfico só aumenta;, reclama o chefe da Federal em Uberlândia, delegado Carlos Henrique Cotta D;Ângelo.

A cocaína da Bolívia, Colômbia e Peru chega ao Triângulo de avião, tendo o Paraguai como escala. De Minas, é distribuída para outros estados da Região Sudeste e também para o exterior. Apenas uma organização criminosa desarticulada pela Polícia Federal em 26 de outubro admitiu ter traficado, em cinco anos, um total de 30 toneladas de cocaína passando pela região, fazendo até três viagens aéreas por mês. No ano passado, foram apreendidos em todo o estado 2.067 quilos de cocaína, mas somente este ano a Polícia Federal do Triângulo já tirou de circulação 2 toneladas da droga e apreendeu outras 3 toneladas que passaram por lá e foram localizadas em estados vizinhos.

O Triângulo Mineiro tornou-se entreposto comercial da coca refinada e da pasta-base pela sua localização geográfica e por ser uma área muito plana, segundo o delegado. Plantações de milho, soja e feijão somem de vista, e há entroncamentos rodoviários que favorecem a distribuição da mercadoria para toda a Região Sudeste do país e para o exterior. Segundo D;Ângelo, a distância dos grandes centros urbanos também é um atrativo. O Triângulo está a cerca de 500 quilômetros de Brasília, Belo Horizonte e São Paulo, e a 700 quilômetros de Campo Grande (MS), o que facilita a distribuição da droga, segundo ele.

Apesar do sucesso das operações, o delegado reclama de falta de agentes para trabalhar. Para combater o tráfico de drogas em 60 municípios da região, incluindo o Alto Paranaíba e Chapada Gaúcha, no Noroeste Mineiro, a delegacia dele tem média inferior a um policial por município. Algumas cidades estão distantes até 800 quilômetros da sede e os federais ainda são responsáveis pelo setor administrativo, registro de armas, fiscalização de empresas de segurança privada, emissão de passaportes e combate a outras modalidades de crimes, como os eleitorais e de corrupção.

Além disso, ainda têm inquéritos para investigar. ;Isso nos angustia muito. Se tivéssemos 300 servidores, teríamos serviço para todos, pois ainda há muito o que ser feito. Há Justiça Federal em Paracatu, Unaí e Uberlândia e agora também em Ituiutaba. Temos que atender a todo mundo;, reclama Carlos D;Ângelo. Este ano, o delegado disse ter autuado 90 traficantes em Uberlândia e ter feito mais de 30 flagrantes e 100 prisões fora do Triângulo, em locais de destino da droga, onde os inquéritos tramitam.

A delegacia da PF de Uberaba também trabalha com número mínimo de policiais. São apenas 16 para atender a 28 municípios de todo o Sul do Triângulo e região do Rio Grande. ;Uma briga de gato e rato;, compara o delegado, ressaltando que a quantidade de ;ratos; é bem maior e que aviões continuam chegando até em comboio a fazendas de café, milho e soja, chegando a pousar em estradas vicinais, segundo ele, transportando até meia tonelada de cocaína cada um.

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