postado em 14/01/2015 10:01
Resultados de pesquisa iniciada em 2013 pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) revelam a possibilidade de aplicação de medidas visando a despoluição de águas contaminadas por metais pesados e agroquímicos.A pesquisa fornece também produzem elementos que levam à descoberta de antibióticos eficazes contra bactérias resistentes à ação de remédios atualmente.
No que se refere à despoluição de águas contaminadas, os estudos mapeiam a diversidade de microrganismos ao longo do curso do Rio Tietê, no estado de São Paulo.
Coordenada pelo professor Welington Luiz de Araújo, do Departamento de Microbiologia do ICB, a pesquisa mostrou a capacidade do rio em recuperar-se mesmo depois de trechos muito poluídos. Algumas bactérias e fungos reagem contra os poluentes e fazem com que a água volte a ter boa qualidade, podendo ser usada para nadar e até pescar.
A proposta de Araújo é utilizar esses microrganismos na água poluída, antes que ela seja escoada para o rio. Dessa forma, os antipoluentes atuaram para limpar a água antes que ela seja escoada para o Rio Tietê. A nova técnica de tratamento poderá ser reaplicada, evitando não só a poluição do Tietê como de outros rios.
;A nascente do rio Tietê, em Salesópolis, na Grande São Paulo, apresenta diversidade [de microrganismos] que é alterada nas áreas mais poluídas, próximas da capital;, disse Araújo. ;No entanto, essa diversidade encontrada no início do curso do Tietê se restabelece cerca de 150 quilômetros adiante, na região de Piracicaba, e se mantém até a foz, no Rio Paraná. Isso demonstra que o rio possui capacidade de se recuperar após sofrer os efeitos da poluição;, disse.
Nas áreas mais poluídas, os pesquisadores identificaram espécies de bactérias resistentes a metais pesados. ;Pesquisas mais detalhadas poderão levar à utilização dessas bactérias em processos de remediação de áreas contaminadas;, disse o professor. ;A ideia não é jogar essas bactérias de volta no rio, mas usá-las em estações de tratamento de esgoto em etapas anteriores à chegada dessa água ao curso do rio;, explica.
Araújo destaca a importância de outra linha da pesquisa, aquela que identifica bactérias que degradam agroquímicos, ;já que na parte anterior à Grande São Paulo há um cinturão verde, com grande quantidade de produtores rurais;.
Além do controle da poluição, o projeto pode beneficiar a área médica, de acordo com o pesquisador. Ele explica que a quantidade de bactérias e fungos no Rio Tietê é muito grande e a tendência é que haja uma competição entre eles a fim de sobreviverem. Com isso, eles produzem moléculas de defesa, que podem funcionar como antibióticos e antifúngicos em pessoas e animais.
O grupo trabalha agora identificando o potencial de cura dessas moléculas de defesa. É preciso saber, ao longo da pesquisa, a eficácia das moléculas contra doenças que se manifestam resistentes à ação de antibióticos.
No entanto, ele alerta que existem testes até a utilização de um novo medicamento. ;Alguns grupos, que podem apresentar propriedades antimicrobianas, poderão ser utilizados na produção de antibióticos, mas - para isso -, as moléculas devem ser caracterizadas num processo que pode levar entre 10 e 15 anos, até que o fármaco seja testado clinicamente e disponibilizado no mercado,; disse.