Brasil

Juventude perdida para a violência

Estudo projeta que, até 2019, 42 mil jovens, entre 12 e 19 anos, serão assassinados no país. Para especialistas, a impunidade e a falta de oportunidades estão entre os principais motivos

postado em 29/01/2015 11:51
José Alexandre Pereira teve o filho Jean Pereira dos Santos assassinado por um adolescenteDe cada mil adolescentes nascidos no ano 2000, pelo menos três correm o risco de serem vítimas de homicídio até o 19; aniversário. A possibilidade nunca esteve tão alta desde 2005. O dado é da pesquisa Índice de Homicídios na Adolescência (IHA). De acordo com o estudo, a taxa atual (de 3,32 jovens) é 17% superior à de 2011, quando o índice era de 2,84. O número ideal é abaixo de 1. O levantamento projeta que mais de 42 mil jovens, entre 12 e 19 anos, sejam assassinados até 2019.

O estudo usa como referência os dados de 2012 do Ministério da Saúde ; os mais recentes disponíveis ; e os censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa analisou 288 municípios com mais de 100 mil habitantes. Segundo as projeções, o maior risco de homicídios de adolescentes tem cor, gênero e região. Enquanto o índice no Brasil como um todo é de 3,32 jovens, no Nordeste ele chega a 5,97, e no Sudeste é de 2,25. A chance de um negro ser assassinado é 2,96 vezes maior do que a de um branco, e o risco de um menino ser vítima de homicídio é 11,92 vezes superior ao de uma menina.

As unidades da Federação com maiores índices de assassinato são Alagoas (8,82), Bahia (8,59) e Ceará (7,74). Os mais bem posicionados são Santa Catarina (1,14), Acre (1,22) e São Paulo (1,29). O DF está na nona colocação, com índice de 3,76. Entre os municípios, o campeão é Itabuna, na Bahia, com IHA de 17,11. A arma de fogo é o principal meio para as mortes. A pesquisa divulgada ontem foi elaborada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-UERJ).

Hoje, os assassinatos são responsáveis por 36,5% das mortes de jovens de 12 a 18 anos no país, percentual maior que o da população em geral, de 4,8. O estudo não indica as motivações para os crimes, mas afirma se tratar de um problema associado à violência urbana. A morte de Jean Pereira dos Santos, em 2012, exemplifica as estatísticas. Ele tinha 17 anos quando foi assassinado. O futuro dele foi destruído na porta da casa da namorada, em Santa Maria (DF), depois que um menino de 14 anos atirou contra ele. O assassino havia recebido do ex-namorado da garota R$ 100 e algumas pedras de crack para matá-lo.

;Foi uma tragédia, a destruição da família. O único defeito do meu filho era ser estudante, honesto e trabalhador;, desabafa o porteiro José Alexandre Pereira, 60 anos, pai de Jean. O autor dos disparos chegou a ser preso e o mandante do crime morreu seis meses depois por causa de problemas com traficantes. Jean era um dos sete filhos de José. Hoje, somente o caçula é menor de idade. ;A gente teme pela segurança dele porque hoje a violência está demais. Todo cuidado é pouco.;

O representante do Unicef no Brasil Gary Stahl diz que a maior parte das mortes ocorre em periferias de grandes metrópoles. ;Um dos motivos (para a violência) é a desigualdade que existe no Brasil. E, se analisarmos onde ocorrem os homicídios, são geralmente entre negros das periferias das grandes metrópoles. Pessoas que não têm sido incluídas nos avanços do país, porque ainda não têm acesso a uma educação e saúde de qualidade;, disse. Outra causa para o alto índice apontada por ele é a falta de articulação entre os ministérios e as polícias.

Impunidade
Para Stahl, além do alto índice, um dado que chama a atenção é o de que nove a cada 10 homicídios no Brasil não são esclarecidos. ;Não temos como saber as causas dos assassinatos;, disse. ;Neste momento, o Brasil tem a maior população de adolescentes que vai ter, porque a pirâmide etária está mudando. Mas está perdendo os jovens para a violência.;

A ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, anunciou ontem a criação de um Grupo de Trabalho Interministerial para elaborar o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Letal de Crianças e Adolescentes. O objetivo é fortalecer as ações de promoção e defesa dessa população.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação