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Após polêmica, Ministério da Justiça apaga peça publicitária

Foto ficou disponível na página da pasta no Facebook por cerca de três horas e foi alvo de duras críticas



"Ministério da Justiça, oi? É aquela que diz que a mulher foi molestada porque estava vestida de forma inapropriada, foi estuprada porque bebeu. É isso? Vamos, mais uma vez, culpar as mulheres por violências sofridas? Não, não é ;Bebeu, perdeu;. Errado é quem tira as fotos, quem faz os vídeos. Errado é quem compartilha. A campanha é absurda", desabafou uma seguidora. "Quer conscientizar acerca do uso abusivo da bebida, mas ao mesmo tempo associa e reforça o bullying ainda mais entre as mulheres?", diz outra publicação.

Em resposta, o ministério se desculpou, disse que houve um equívoco e ressaltou que a peça tem o objetivo de conscientizar.



O novo post, porém, também recebeu ataques. "Não tem mal entendido nenhum! A mensagem é clara, não inventem uma suposta má interpretação. A campanha inteira é ruim, não só pelo machismo, mas pelo proibicionismo moralista e ineficaz", escreveu uma seguidora.

Para a especialista em direito da mulher, Lia Zanotta Machado, a imagem é de mau gosto. "É uma mensagem muito forte de bullying com as mulheres. Não se pode culpar uma pessoa que bebeu, perdeu o controle, e foi abusada. É uma imagem equivocada que acaba legitimando ações preconceituosas".

Ao Correio, a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça alegou que a foto foi apagada para evitar que a polêmica continuasse. Afirmou ainda que a campanha tem esse tom "mais descontraído" para se aproximar dos jovens mostrando episódios que retratam a realidade deles.

As fotos foram aprovadas pelo grupo de jornalistas do Ministério da Justiça, segundo a própria pasta, e serão veiculadas exclusivamente nas redes sociais até 22 de fevereiro. Vídeos da campanha também serão disponibilizados no canal do MJ no YouTube.

A campanha
Um dos objetivos da iniciativa é sensibilizar os comerciantes a não vender o produto para crianças e jovens - prática criminosa que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pode ser punida com até quatro anos de prisão e multa.

A estratégia de comunicação foi elaborada a partir dos resultados de uma pesquisa encomendada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo o estudo, feito em 2010, 60% dos jovens estudantes do 6; ao 9; ano do ensino fundamental, e do 1; ao 3; ano do ensino médio, de escolas públicas e particulares, responderam que já consumiram álcool ao menos uma vez na vida. Desses, 15,4% tinham entre 10 e 12 anos, e 43,6% entre 13 e 15 anos.