postado em 11/02/2015 19:56
Um grupo formado por 10 angolanos cegos pede o visto de permanência no Brasil com direito a trabalho. Eles vieram para o país ainda crianças, mas correm risco voltar a Angola sem concluir os estudos, já que o visto de cortesia cedido pelo governo brasileiro, em 2001, acaba em abril.
O fotógrafo Yuri Sardenberg iniciou a campanha ;Cegos de Angola; nas redes sociais para chamar atenção do governo brasileiro sobre o caso. As atrizes Isis Valverde e Carolina Ferraz, o cantor Diego Ferrero e a modelo Thaila Ayala já participaram e compartilharam no Instagram. Também foi criada uma página no Tumblr com a história dos angolanos.
O grupo veio para o Brasil em 2001 por meio da ONG angolana Fundação Eduardo Santos (Fesa) e do Fundo Lwini, por causa da guerra civil e falta de estrutura da Angola. Durante alguns meses, eles moraram em Juiz de Fora (MG), depois ficaram 10 anos no Instituto Paraense de Cegos (IPC), em Curitiba (PR), onde foram alfabetizados, tiveram aulas de informática e braile, e praticaram esportes. Os jovens, entre 20 e 26 anos, moram em duas repúblicas, em Curitiba.
Segundo Leomar Marchesini, coordenadora do setor de inclusão da Universidade Uninter, em Curitiba, a Defensoria Pública da União (DPU) entrou com um pedido no Conselho Nacional de Imigração (Cnig) para que os angolanos cegos possam trabalhar no Brasil. ;Como o visto de cortesia expira em abril, o governo da Angola cortou a ajuda de custo que enviava a eles. Com isso, o grupo passa por dificuldades para se manter;, explicou Marchesini. Aqueles que possuem família no país africano foram orientados pelos parentes a permanecerem no Brasil, já que a Angola não oferece condições de vida para um deficiente visual.
O visto de cortesia não dá direito a trabalho legal no Brasil. Caso os angolanos consigam permissão para trabalhar no país, após um ano eles devem entrar com o pedido de cidadania brasileira.
Maurício Tchopi Dumbo, um dos angolanos, escreveu em uma rede social sobre a vontade de permanecer no Brasil. ;Hoje me sinto um indivíduo brasuca, encho o peito de orgulho e abro a minha boca para defender esse país para o que for preciso. Mas não tenho a cidadania brasileira e corro o risco de ter que voltar, contra a minha vontade, para Angola. Eu sempre dependeria de alguém para me locomover. As condições no meu país não são favoráveis para um cego andar sozinho;, descreveu ele.
Sem dinheiro
Em novembro de 2014, representantes do consulado angolano avisaram aos jovens que eles teriam que retornar ao país de origem. Em janeiro, o grupo deixou de receber ajuda de R$ 1 mil cada. Com esse valor, eles pagavam faculdade, aluguel e outras despesas.
Todos os angolanos estão na universidade e por isso se recusam a retornar ao país de origem. Eles cursam direito, jornalismo, psicologia, pedagogia, sistemas de informação e educação física. Por causa da suspensão na ajuda de custo da Angola, alguns vendem balas no semáforo para pagar aluguel e outras despesas. O grupo também recebe ajuda de amigos e conhecidos por meio de uma conta bancária.
Em nota, o Itamaraty informou que a prorrogação da permanência dos estrangeiros no Brasil pode ser feita apenas pelo Departamento da Polícia Federal. A pasta esclareceu ainda que, pela leim, não pode conceder auxílio financeiro a um cidadão estrangeiro residente no país.