postado em 20/02/2015 18:11
Esqueça tudo que você já viu nos consagrados Interestelar, Gravidade, ou qualquer outra ficção científica espacial de Hollywood: a verdadeira jornada no espaço será protagonizada por uma brasileira. A professora Sandra Maria Feliciano, 51 anos, moradora de Porto Velho (RO), está entre os 100 candidatos a uma viagem sem volta ; a missão (de verdade) é colonizar Marte. A única brasileira do grupo contou ao Correio detalhes da aventura, enquanto se comparou ao português Pedro Álvares Cabral: "Ele também não tinha noção do que encontraria".
O fato de ser uma viagem sem volta não assusta a futura astronauta. "Mesmo se não fosse assim, eu ficaria por lá. Minha missão é colonizar Marte e é isso que vou fazer", disse. Se for selecionada, a brasileira será funcionária do Mars One, receberá um salário (o valor ainda não foi informado) e vai participar de um treinamento por oito anos antes de embarcar para o espaço em 2022.
"Não estou interessada em dinheiro, não sei quanto vou receber. Quero fazer isso para realizar meu sonho. Já pedi aposentadoria e recusei um mestrado na Espanha para me dedicar ao projeto. Ir para Marte não é só um desafio, é uma necessidade. Alguém tem que começar", destacou.
Ciente dos futuros percalços, ela se considera uma desbravadora e esbanja coragem (tal qual os protagonistas dos filmes hollywoodianos) ao falar do que espera: "Aqueles que forem serão os desbravadores, espremidos em pequenas naves, podendo alcançar uma morte horrível ou a glória de entrar para a história".
Fascinada por ficção científica, Sandra nasceu na terra do astronauta brasileiro Marcos Pontes. "Só pode ser a água de Bauru (SP)", brinca a professora. O interesse pelo desconhecido surgiu quando ela tinha seis anos de idade. "Quando assisti o Neil Armstrong pisando na Lua, fiquei encantada. Decidi que era isso que queria fazer". Aos nove anos, mudou-se para Rondônia, onde se formaria em Direito e Administração.
Apesar de (ainda) não ser astronauta, além de dar aulas em uma universidade, ela se dedicou a escrever livros sobre o espaço. Os antigos - Parte 1 é uma das obras. Segundo a futura habitante de Marte, a estória se baseia na teoria do astronauta antigo e conta várias descobertas recentes de arqueologia e da região amazônica, associadas a relatos mal esclarecidos sobre a formação de um planeta.
Ao pesquisar sobre Marte, para acrescentar em um de seus livros, Sandra encontrou o projeto Mars One. "A princípio fiquei com receio, sem saber se era confiável. Depois vi que cientistas que ganharam o Nobel estavam envolvidos na pesquisa. Me inscrevi e, até agora, deu tudo certo", acrescenta, se referindo ao holandês Dr. Gerard ;t Hooft, Nobel de Física em 1999.
O projeto vai escolher 24 pessoas para colonizar o planeta vermelho. Dentre os pré-selecionados estão cientistas e acadêmicos com idades entre 19 e 60 anos. Ao fim do processo, 12 homens e 12 mulheres serão lançados no espaço dentro de pequenas cápsulas.
A família de Sandra ainda está se adaptando com a ideia de ter parentes no planeta vizinho. "Meu pai acha sensacional, contou para todos os vizinhos. Meus irmãos me chamaram de louca", exemplifica. Sandra mora sozinha, não é casada e não tem filhos, mas é muito próxima de seus pais e irmãos: "Claro que vou sentir falta deles, mas haverá um link de comunicação, com um delay de 17 minutos, a gente vai poder conversar e contar novidades, mesmo que com atraso, se eu for a Marte".
Seleção
Para concorrer ao posto de astronauta, a professora teve que gravar um vídeo de apresentação totalmente em inglês (dominar o idioma, língua oficial da missão, é pré-requisito). Sandra está no nível básico do inglês. Ela conta que primeiro criou um texto, depois ajustou a redação junto aos professores do cursinho. Em seguida, passou a treinar a pronúncia do discurso, gravou o vídeo e enviou para o projeto. No início, eram mais de 200 mil candidatos. Após a fase de entrevistas online, restaram apenas 100 selecionados.
Sandra integra o grupo com 50 homens e 50 mulheres que atravessaram com sucesso a segunda rodada. Os candidatos vêm de todo o mundo: 39 das Américas, 31 da Europa, 16 da Ásia, sete da África e sete da Oceania. "O grande corte de candidatos é um passo importante para sabermos quem tem as qualidades certas para ir a Marte", diz Bas Lansdorp, cofundador e diretor-executivo da fundação Mars One em comunicado oficial.
Viagem sem volta
O treinamento de oito anos começa com preparação psicológica; em seguida, os candidatos vão conhecer as técnicas - a cada 4 componentes, dois se especializarão em medicina e engenharia. Na terceira e última etapa, grupos serão enviados, durante três meses, para diferentes países onde vão simular a convivência em Marte. O ritual se repetirá anualmente, até a data da missão.
Enquanto isso, em 2016 serão enviados o satélite de comunicação e rovers (uma espécie de robô explorador) para checar o local onde a colônia será instalada. Entre 2018 e 2020 serão enviados os diversos módulos contendo alimentação, água, oxigênio, painéis fotovoltáicos e o restante do equipamento.
Em 2022, sairão os casulos, que serão também os habitats, com aproximadamente 52m; para cada casal. O módulo contém quarto, sala, banheiro, aérea de hidroponia (técnica de especial de cultivo) e higiene. Ao pousar no planeta vermelho, esses módulos ficarão abaixo do nível do solo, para impedir a incidência de radiação nas ;casas;.