postado em 05/04/2015 08:05
É crítica a situação no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, segundo avaliação do diretor-executivo da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes. Segundo ele, a ocupação do local por policiais em 2010 foi bem sucedida e ocorreu de forma pacífica, mas desde 2013 uma série de fatores prejudicaram a pacificação da comunidade. "Um deles foi a mudança no comando da Polícia Militar. Os PMs que haviam planejado e tinham experiência para conduzir a operação foram colocados na reserva e outras pessoas entraram."Fernandes diz também que as manifestações de junho de 2013 exigiram muito a presença e o foco da corporação. Em seguida, houve uma série de denúncias de corrupção na polícia do Rio, fragilizando-a. Esses fatores teriam dificultado a continuidade da ocupação do Complexo e montaram um terreno em que traficantes voltaram a ter mais poder. "Diante da crise, o comando inicial, que havia planejado a ocupação, foi tirado da reserva e voltou, mas pega uma situação crítica na tentativa de retomada, com confrontos sem controle e tiroteios. Nas trocas de tiros sempre há vítimas inocentes", diz.
A série de mortes no Complexo do Alemão, de acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, são fruto de uma crise instalada no local e que se repete país afora. De acordo com essa avaliação, os homicídios são resultado da relação de uma comunidade fora de controle com uma polícia despreparada. Dados da Anistia Internacional mostram que, no Brasil, policiais mataram 2.130 pessoas no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 2013 e 2014. Desde a última quarta-feira, quatro pessoas foram mortas em troca de tiros no Alemão.
Gerente de Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), Suzana Varjão aponta a falta de treinamento adequado para a polícia, que faz vítimas entre as parcelas mais desprotegidas da população. ;A extrapolação do uso legitimo da força está elevada, atingindo notoriamente crianças negras e pobres. Não há justificativa para um policial atirar em quem quer que esteja com um celular na mão. O treinamento policial está sendo feito para matar;, critica. ;O PM tem de estar preparado para uma situação extrema, não pode sair matando. O poder público precisa enfrentar essa questão. Não é uma questão circunstancial;, completa.