Agência France-Presse
postado em 08/04/2015 12:26
Rio de Janeiro, Brasil - Embora a violência tenha retornado às favelas pacificadas do Rio de Janeiro, onde um menino de 10 anos foi a vítima mais recente dos confrontos entre traficantes e policiais, o major que coordena a pacificação, Marcelo Cobrage, nega uma crise e insiste no reforço desta estratégia a quase um ano dos Jogos Olímpicos.Este é um resumo de sua entrevista à AFP.
AFP: Existe uma crise das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP)?
Cobrage: Com a implantação das UPP em favelas desde 2008, a queda da criminalidade em todo o estado do Rio foi clara. Compreendemos que o processo de pacificação alcança uma nova fase, a da consolidação. O governador (do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão) publicou um decreto que faz da pacificação uma política de Estado que não será interrompida com as mudanças de governo. O decreto também aponta que cabe à secretaria de Segurança Pública se associar com a iniciativa privada, com organismos nacionais e internacionais para consolidar a pacificação. Os policiais da UPP serão preferencialmente recém-formados, com uma especialização em direitos humanos e com a filosofia da polícia de proximidade. Cada UPP terá um efetivo mínimo de 100 policiais militares (PM).
AFP: Em que consistem os ajustes nas UPP que estão sendo anunciados?
Cobrage: Estamos num momento difícil, mas não vamos voltar à situação de sete anos atrás. É impossível impedir as balas perdidas enquanto ocorrerem confrontos entre traficantes de drogas. O realinhamento estratégico tem por objetivo melhorar o treinamento das tropas. Redistribuímos os homens em terra. As delegacias serão reforçadas e serão instaladas barricadas nos locais estratégicos. As regiões pacificadas serão patrulhadas com pente fino.
Estas operações já começaram no complexo de favelas do Alemão na quinta-feira (quando um menino de 10 anos morreu depois de ser atingido na cabeça por um tiro disparado por um policial, segundo denunciou sua mãe). Nos próximos dias, será construída a primeira cabine policial blindada no Alemão para substituir o contêiner onde uma UPP funciona atualmente.
AFP: Acreditava-se que as UPP transformariam a polícia militar do Rio a partir de dentro, mas ela continua sendo violenta e corrupta. O que aconteceu?
Cobrage: Como toda grande corporação, a polícia também tem problemas de conduta. Mas o mais importante é que a polícia é muito dinâmica e rápida na punição dos desvios. Além disso, muitos aspectos que complicam a relação entre as forças de ordem e a população são históricas (datam da ditadura militar de 1964-1985) e tentamos mudá-las com uma política de proximidade. Os moradores devem entender que o policial está presente para garantir a paz e a ordem no território e aqueles que interferem neste trabalho são os traficantes de drogas que utilizam os habitantes como escudo. Para ajudar nesta aproximação, os policiais das UPP terão cursos sobre a história da favela onde trabalham. Em troca, pedimos a colaboração da população, que digam onde estão os traficantes, as armas, as drogas.
A polícia de pacificação não retrocederá.