postado em 10/04/2015 18:02
O grande desafio do Brasil na área da segurança alimentar será pensar na questão nutricional, disse hoje (10/4) à Agência Brasil a chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Lourdes Cabral. ;O Brasil saiu daquele patamar de países de pessoas com fome. Hoje não existe mais isso. Nós temos soberania alimentar, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO);, disse ela, mas destacou que essa disponibilidade tem que ser atrelada agora à qualidade nutricional, com alimentos seguros.Dentro do desafio de dispor para a população alimentos com alto teor nutritivo, Lourdes Cabral destacou a importância de atividades como pesquisa e desenvolvimento. Um dos grandes problemas atuais detectados pela FAO é a questão de perdas ao longo da cadeia produtiva. Segundo Lourdes, do campo até a mesa do consumidor, ocorrem entre 30% e 50% de perdas, às quais se soma também o desperdício. ;Aquela comida que, muitas vezes, é deixada no prato; o que sobra nos restaurantes. Este é um trabalho no qual a gente pode colaborar bastante;, ressaltou.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos ; da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ; tem uma área de pós-colheita onde trabalha com a redução de perdas, por meio do uso de embalagens adequadas para alimentos, técnicas de conservação de alimentos, ;o próprio processamento, que permite que o alimento saia do Nordeste e chegue à Região Sudeste com qualidade adequada. Essas são as diferentes linhas de pesquisa com as quais a gente trabalha aqui e que pode colaborar na questão de perdas;.
Leia mais notícias em Brasil
Pesquisas são feitas também na área de qualidade alimentar. Um exemplo é o projeto de biofortificação de alimentos. Alguns produtos que integram a cesta básica do consumidor brasileiro ; arroz, feijão, batata-doce, mandioca ; são submetidos a processos de melhoramento genético clássico, o que aumenta o teor de alguns minerais e vitaminas. Outra área importante de pesquisa é a questão dos riscos. ;Não adianta ofertar para a população produtos ou alimentos que não sejam seguros;, disse ela, e citou o caso de peixes contaminados por mercúrio ou alimentos que apresentam contaminação microbiológica. A Embrapa Agroindústria de Alimentos contribui nessa área com o desenvolvimento e implementação de técnicas de análise. O conhecimento desenvolvido tem que servir de apoio para a formação de algumas políticas de governo, indicou Lourdes.
Engenheira química, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lourdes acredita que as políticas públicas precisam ser aprimoradas continuamente. O objetivo agora, insistiu, é aumentar a segurança em termos de disponibilidade de alimentos para a população, por meio da redução de perdas. ;Quando você tem perdas ao longo da cadeia, além do alimento em si, você está perdendo água e energia, entre outros insumos usados;, acrescentou.
Um bom projeto no sentido da redução do desperdício, disse ela, é o Cozinha Brasil, desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). Lourdes comentou que qualquer iniciativa como essa deve ser incentivada, no sentido de diminuir o desperdício e as perdas de alimentos, evitando que tenham o lixo como destino. A Embrapa pode somar nesse esforço, porque conhece as técnicas de processamento que contribuem para que alimentos que não estejam aptos para consumo à mesa, mas ainda são alimentos seguros, sejam transformados em doce, por exemplo, de forma a ter uma vida útil mais longa e servir a um número maior de pessoas.
Para colaborar com as discussões da 5; Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em novembro deste ano, em Brasília, a Embrapa Agroindústria de Alimentos organizou hoje (10) mesa redonda que reuniu especialistas sobre o tema, com foco nas políticas em vigor. A conferência terá como lema ;Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar;. Ela será precedida de etapas locais e municipais, até junho, e de etapas estaduais, até agosto.
A unidade da Embrapa, sediada no Rio de Janeiro, fará mais três oficinas ao longo do ano ; em interface com a conferência nacional ;, que debaterão redução de perdas, risco alimentar e qualidade de alimentos. Todos relacionados à segurança alimentar e nutricional e às pesquisas desenvolvidas pela empresa.