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Menino agradece juiz que liberou mãe em estado terminal para morrer em casa

Mensagem enviada por criança de 11 anos surpreendeu o magistrado que autorizou a prisão domiciliar de mulher com doença terminal

Hellen Leite
postado em 17/04/2015 19:04
Mensagem enviada por criança de 11 anos surpreendeu o magistrado que autorizou a prisão domiciliar de mulher com doença terminalO juiz João Marcos Buch, da Vara de Execuções Penais da Comarca de Joinville (SC), se surpreendeu ao ler uma mensagem postada por um menino de 11 anos. Na mensagem, ele agradece o magistrado por ter deixado a mãe em estado terminal cumprir pena domiciliar nos últimos dias de vida.

A mãe do garoto cumpria pena por furto, era portadora do vírus HIV e estava com metade do corpo paralisado como consequência de uma lesão cerebral. Mesmo diante do estado de saúde crítico, a mulher recebia o tratamento com os tornozelos algemados em uma cama de hospital. O que o menino queria era que a mãe morresse com dignidade. "No dia em que a avó e o menino fizeram o pedido, inspecionei o hospital, mandei tirar as algemas e concedi prisão domiciliar, para que na alta ela fosse morrer em casa e não no presídio", comenta o juiz.



A mulher morreu em 25 de março. No último domingo (12/04), o menino escreveu ao juiz para lhe agradecer por permitir que a mãe morresse "com dignidade". "Minha mãe, quis Deus que ela ficasse bem doente e o senhor foi lá soltar". O garoto diz na mensagem que também é soropositivo e deseja ser médico quando crescer. "Desde já quero ser um homem honesto", concluiu.

[SAIBAMAIS]A família recebeu nesta sexta-feira (17/04) a visita de um assistente social e terá acompanhamento do estado.

Leia a mensagem na íntegra

Olá senhor juiz. Minha avó disse que eu podia deixar um recado aqui, que o senhor ia ver. Tenho 11 anos e sou filho da ... Sei que o senhor vai lembrar, sou neto da... e só queria agradecer ao senhor. Cresci vendo meus pais fazendo coisa errada e sendo presos. Por muitas vezes entrei na prisão para visitar meu pai ou minha mãe. Por muitas vezes vi eles ganharem a liberdade e novamente serem presos. Mas hoje esse é um passado que não faz mais parte do meu presente. Quis Deus que meu pai saísse da prisão em dezembro, de condicional e fosse trabalhar. Minha mãe, quis Deus que ela ficasse bem doente e o senhor foi lá soltar. Eu estava segurando a mão da minha vó quando ela foi na sua sala pedir para aquelas moças que alguém fizesse alguma coisa pra minha mãe morrer com dignidade e o senhor fez. Também sou soropositivo, essa escolha não fui eu quem fez, mas tenho direito às próximas. E desde já quero ser um homem honesto. Obrigado, senhor juiz João Marcos.

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