Brasil

Um quarto da população urbana vive em favelas, segundo ONU

Coordenador da Habitat, diz que prefeitos podem enfrentar problemas econômicos controlando ocupação de espaço

Eduardo Militão
postado em 19/05/2015 11:55
Coordenador da Habitat, diz que prefeitos podem enfrentar problemas econômicos controlando ocupação de espaço
CURITIBA ;
Uma em cada quatro pessoas que vivem nas cidades mora em alguma favela do planeta. A informação é do coordenador do setor de política habitacional do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), Claudio Acioly, em palestra em Curitiba. Dados de 2012 mostram que existiam 1 bilhão de pessoas neste tipo de moradia. Segundo ele, é preciso usar o conceito de ;cidades inteligentes;, para encontrar soluções para problemas como esses, mesmo com o apertado orçamento das prefeituras. Acioly afirmou que alguns problemas econômicos podem ser resolvidos com a gestão municipal. O simples controle da ocupação do espaço pode fazer a construção de um metrô ficar mais barata e ainda atender a um número de pessoas muito maior.

;Vamos concordar com os princípios e diretrizes que devem formar uma política para uma cidade que queremos num futuro urbano: nossos dois pilares são desenvolvimento urbano sustentável e moradia adequada para todos;, disse Acioly, na manhã desta terça-feira (19/5), na abertura do Congresso Smart City, promovido por instituto de mesmo nome a fim de encontrar meios de viabilizar o uso de tecnologias acessíveis para as cidades resolverem problemas de moradia, transporte, energia e acessibilidade. Acioly disse que o evento funciona como uma preparação para a 3; Conferência da Habitat, em outubro de 2016 em Quito, no Equador ; o último encontro foi em 1996, em Istambul, na Turquia.



[SAIBAMAIS]De acordo com o coordenador da ONU, a população das cidades no mundo aumentou, a riqueza também, mas a desigualdade veio junto. ;Essa situação não é sustentável para um futuro de prosperidade. As cidades são divididas entre os que têm e os que não têm;, afirmou Acioly. Hoje, 50% do planeta não vive mais na zona rural. Em 2030, serão 60%. O fenômeno é relativamente recente, porque, em 1800, a taxa de urbanização mundial era de apenas 3%.

Nas Américas, os 10% mais ricos são donos de 40% da renda nacional. Ao contrário, os 10% mais pobres, de apenas 2%. Apesar disso, a pobreza no mundo caiu de 43% para 21% nos últimos 20 anos. Hoje, há 750 milhões de pessoas na classe media, segundo Acioly. ;Isso é bom para os negócios, cidades, economia, para muita gente.;

Metrô de Barcelona e Atlanta

O desafio precisa ser enfrentado pelos próprios prefeitos, segundo Acioly. ;A política local municipal faz diferença, em melhor acessibilidade aos bens e serviços na cidade. Isso tem impacto.;

Além da desigualdade, o coordenador da Habitat citou outros problemas das cidades. O crescimento demográfico e a expansão territorial mais rápida que o crescimento populacional são prejudiciais. Accioly diz que a ocupação de espaço acontece duas vezes mais rápido do que o aumento da população. Ele citou o exemplo de Barcelona, na Espanha, de Atlanta, nos Estados Unidos, ambas com 2,5 milhões de habitantes.

A primeira tem sua população concentrada. Mas Atlanta tem um território 28 vezes maior. Resultado: segregação espacial e aumento dos custos de urbanização. ;Isso não é boa noticia.; Em Barcelona, a linha de metrô é acessível a 60% da população e possui apenas 99 quilômetros. Para fazer o mesmo em Atlanta, seriam necessários, 3,4 mil quilômetros de metrô. ;Logicamente que o poder municipal não tem esses recursos;, disse Acioly.

Soluções
Para resolver o problema, Acioly defendeu uma mudança na agenda muncipal. Isso inclui antecipar o crescimento das cidades e planejar a ocupação do espaço. Também é preciso fazer leis e normas inteligentes, que incentivem a criatividade empresarial para o setor produtivo encontrar medidas contra problemas existentes. Outra solução é usar medidas sustentáveis em larga escala, como veículos com várias fontes de energia.

Acioly diz que a ONU fez uma pesquisa em 77 cidades européias de porte médio, com 100 mil a 500 mil habitantes, mas que faziam parte de uma área de influência de 1,5 milhão de pessoas. Nelas, as Nações Unidas avaliaram questões como o uso inteligente da economia, da mobilidade, das redes digitais e do acesso à cidade do ponto de vista nacional e regional.

O resultado foi que umas cidades mais ;inteligentes; da Europa foi Luxembugo, situada no país de mesmo nome. Já Eindhoven, na Holanda, estava atrás no quesito sustentabilidade.

*O repórter viajou a convite do Instituto Smart City

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