Brasil

"Ressuscitei no terceiro dia", diz transexual crucificada na Parada Gay

Ela publicou um vídeo desejando "muita paz para vocês" no dia em que deputados evangélicos e católicos repudiaram o protesto no evento LGBT

postado em 10/06/2015 23:43
Ela publicou um vídeo desejando
A modelo e atriz transexual Viviany Beleboni, que representou uma cena de crucificação na última Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, publicou, na noite desta quarta-feira (10/6) um vídeo em que afirma ter "ressuscitado no terceiro dia". Na publicação, ela desmente rumores, veiculados na internet, de que teria sido morta: "Estou bem viva". Ela conclui a mensagem com um desejo de "muita paz para vocês".

Nesta mesma quarta-feira, o protesto de Viviany no evento motivou um ato de parlamentares evangélicos e católicos na Câmara dos Deputados. Com imagens da modelo crucificada estampada em cartazes e faixas, eles reclamaram de "cristofobia" e repudiaram o evento LGBT. Os deputados gritaram ;justiça;, rezaram o Pai Nosso e subiram na tribuna para exaltar os valores cristãos e evangélicos. Um cartaz distribuído em plenário continha imagens da parada gay e das marchas das vadias e da maconha. Na faixa, a pergunta: "você é a favor disso?"

O presidente da Frente Parlamentar Evangélica João Campos (PSDB-GO) leu uma nota de repúdio na tribuna, em que ressalta a falta de respeito dos integrantes do movimento LGBT contra a cruz, símbolo religioso. "Os ativistas do movimento LGBT cometerem crime de profanação contra símbolo religioso, ferindo a todos os cristãos ao usarem uma pessoa pregada na cruz, utilizando símbolos do cristianismo de forma escandalosa, zombando e ridicularizando o sacrifício de Jesus", disse.

Protesto
Em entrevista ao Correio no dia seguinte ao protesto da parada, Viviany Beleboni disse que a intenção não foi afrontar religiosos, mas alertar a população sobre crimes de violência contra a população LGBT e mostrar o estado em que ficam as vítimas de homofobia e transfobia. ;Uma amiga minha travesti morreu há cinco dias. Ela levou quatro tiros na rua e eu tenho vários amigos que sofrem preconceito. Eu inclusive fui colocada para fora de casa;, conta.

A atriz e modelo trabalha com performances desde os 18 anos e participou da parada outras vezes. Ela conta que tem uma marca na cabeça de agressões que sofreu na escola e que ontem chegou a receber ameaças de morte por telefone.

Violência
Em 2014, foram registradas 1.013 denúncias de homofobia pelo Disque 100, serviço da Secretaria de Direitos Humanos. São Paulo é o estado com maior número de casos. Foram 150, o equivalente a 24,68% do total no país. Marcelo Gil, da diretoria de denúncias da ABCDS, lembra que muitos casos ficam sem solução, como o jovem morto no banheiro do metrô Jabaquara em setembro do ano passado.

;As travestis são violentadas, agredidas e exterminadas. Quando você pega um crime de homofobia e transfobia, os requintes de crueldade são os piores;, afirma. Um projeto de lei que tornava esses atos crime foi arquivo no Senado em janeiro. Agora uma das opções é votar uma proposta da deputada Maria do Rosário (PT/RS) que tipifica crimes de ódio e intolerância contra diferentes grupos.

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