postado em 11/06/2015 17:40
O comercial de um remédio para o alívio da cólica vem provocando polêmica nas redes sociais. Protagonizado pela cantora Preta Gil e com o nome "sem mimimi", a campanha publicitária da marca Novalfem propõe que os as mulheres não deixem os sintomas da cólica menstrual atrapalharem o cotidiano delas. "Mulher forte, gata, não pode ficar parada. Pra mimimi não temos tempo", diz a cantora.A propaganda, com imagens de mulheres felizes e música que gruda na cabeça, foi compartilhada milhares de vezes por pessoas que não gostaram nem um pouco da mensagem. Maynara Fanucci é ativista da causa feminista e dona da página ;Empodere Duas Mulheres;, ela foi uma das pessoas a levantarem o debate. Na página, ela chama o vídeo de um "absurdo publicitário". "Campanha afirma que cólica menstrual é "mimimi". Agora fica proibido mulher sentir dor. Estereótipos de super-mulher, super-mãe, sem dor, não caiam nessa", escreveu.
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A comunicadora acredita que a campanha tenta oprimir o que as mulheres realmente sentem. "A tendência é que todas as dores, falas, problemas ou questões femininas sejam tratadas como supérfluas ou não merecedoras de atenção, porque tudo é culpa dos hormônios, ou porque a mulher é ;exagerada;".
Maynara, que já trabalhou em agências de publicidade, considera difícil saber qual foi a real intenção por parte dos criadores nas reuniões criativas, mas enfatiza: "O resultado com certeza foi bem ruim, inclusive diminuindo dores que só as mulheres sentem. Isso não acontece com doenças sentidas também por homens, a gente nunca viu propaganda de dor de cabeça sendo tratada como ;mimimi; ou frescura", completou.
Preta Gil resolveu comentar o assunto em seus perfis da internet, na noite dessa quinta-feira (12/6). "Quando fui convidada para fazer a campanha %u202A#;SemMiMiMi%u202C fiquei muito feliz e achei a ideia super divertida e pra cima. A campanha nasceu para discutir um assunto sério de uma forma leve, humorada, que tem tudo a ver comigo. Em nenhum momento enxerguei como algo machista ou que desmerecesse quem sente cólicas fortes. Mas o fato foi que muitas mulheres se sentiram desrespeitadas. Li muitas coisas e me solidarizo com a maioria dos depoimentos e em consideração a elas, a campanha foi interrompida. Muitos beijos com carinho, Preta", escreveu.
Em resposta às críticas, a empresa publicou dois comunicados na conta do Facebook, em que diz respeitar a opinião das consumidoras. A Novalfem afirmou que a campanha tenta tratar o assunto de forma leve, "baseada no humor". "Lamentamos, sinceramente, que pessoas tenham se sentido desrespeitadas pela iniciativa pois, de maneira alguma, tivemos a intenção de minimizar ou desqualificar a dor de quem a sente. Em respeito às pessoas que se manifestaram sobre a campanha #SemMiMiMi, informamos que todo o conteúdo relacionado à mesma será mantido nessa página até a meia-noite", diz a nota. O Correio procurou a empresa, mas, até a publicação do texto, não obteve resposta.
Já a agência Publicis, responsável pela criação do comercial disse, também por meio da rede social, que "o objetivo com a campanha de Novalfem é ajudar as mulheres que sentem dores leves e moderadas a conseguir manter a rotina e aliviar o desconforto". Disse também que em nenhum momento teve a intenção de minimizar as dores das mulheres ou de ofender quem sofre com doenças e problemas mais graves, para os quais a consulta a um médico é sempre aconselhada".
Explicação médica
A intensidade da cólica deve ser observada pela mulher durante a menstruação porque, segundo o ginecologista Carlos Porto Carreiro, membro da Associação Médica de Brasília (AMBr), as mais intensas podem ser um sintoma da endometriose, uma doença que pode impedir a gravidez. Progressiva, a patologia dura os três períodos do ciclo menstrual: antes, durante e depois: "A não valorização dos sintomas dificulta o diagnóstico". Se não houver tratamento, a mulher pode ser recomendada a fazer uma cirurgia.
Para o alívio da cólica, o médico indica que as mulheres consumam mais alimentos com fibras, acrescentem açúcares não refinados à dieta e diminuam as frituras e bebidas com cafeína.
Tolerância
Há dois anos, a dona de um restaurante da Asa Norte, Jul Pagul - que também sofre com a cólica - estabeleceu que todas as funcionários poderiam ter uma folga do trabalho durante o ciclo menstrual, em respeito aos sintomas causados pela menstruação. "Nós não somos só trabalhadores, a gente tem um corpo e precisamos desse cuidado. Não tem relação com fraqueza, mas porque esse é um momento de descanso e auto-cuidado". A empresária percebeu que as funcionárias se sentem mais respeitadas.