Brasil

Estudantes do ensino noturno têm pior desempenho escolar, diz pesquisa

Disparidade entre idade e série e menor tempo de aula são alguns dos fatores que contribuem para esse cenário

postado em 23/07/2015 06:05


Um terço dos 7,2 milhões de alunos de ensino médio matriculados na modalidade regular da rede pública estadual estuda à noite. Apesar de o número de matrículas cair cerca de 2% ao ano desde 2010, a quantidade de 2,3 milhões de inscritos nesse turno é muito expressiva, ainda mais quando o desempenho dessa parcela de estudantes é comparado ao das demais turmas. Pesquisa do Instituto Ayrton Senna, com o objetivo de entender melhor essa realidade, que avalia uma série de características dos períodos diurno e noturno, revela diferenças acentuadas.

As principais disparidades entre os períodos são: perfil do aluno, taxas de evasão e tempo de aula. À noite, os jovens são cerca de três anos mais velhos (o que configura alta distorção idade-série), com média de 18,8 anos no 1; ano do ensino médio. No 3; ano, 51% deles trabalham, mais que o dobro do percentual diurno, segundo dados de 2013 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). As turmas têm uma hora a menos de aula, em decorrência dos limitados horários de funcionamento do transporte público, e a taxa de abandono é maior ; 14,5% à noite, contra apenas 4,7% nos demais turnos somados, sendo que, no Distrito Federal, a evasão do noturno chega a 21%.

Entre as conclusões da pesquisa, verificou-se que os índices de rendimento apresentados pelos jovens do período noturno, em comparação aos do diurno, são baixos. A análise dos resultados da Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), aplicada em 2013 pelo Saeb, mostra que, apesar de, em geral, os alunos secundaristas no Brasil não terem atingido a pontuação mínima considerada adequada ; de 300 pontos em matemática e 350 em português ;, a média obtida pelos estudantes da noite foi 25 pontos menor do que a do diurno. No DF, a disparidade é maior: 35 pontos de diferença em matemática e 28 em português.

Para Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna responsável pela pesquisa, esses resultados expõem lacunas existentes no plano mais discutido nos debates eleitorais do ano passado: investir na implementação do ensino integral. Segundo ele, esse modelo não leva em conta o perfil diferenciado do aluno da noite. ;Ver o ensino integral como a bola de prata da educação não resolve as coisas e, se o Brasil não tem uma política clara para o diurno, para o noturno é pior ainda;, destaca.

Já a diretora executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, considera que há oferta excessiva de turmas noturnas para suprir as altas demandas, que aumentam devido à escassez de vagas e à falta de verba para construir escolas. ;Dezoito por cento dos jovens com idade de ensino médio ainda estão fora da escola, o que leva a uma corrida das secretarias estaduais para incluir esses potenciais alunos. O ensino médio noturno deveria ser direcionado apenas aos que realmente necessitam dele, que não é o que ocorre.;

No Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab) de Taguatinga, por exemplo, as demandas na estrutura física são recorrentes. ;No terceiro turno, são menos seguranças, a iluminação é precária e o horário contribui para o uso de drogas, apesar de termos minimizado esse problema aqui;, disse a diretora da unidade, Suzane Margarida.

;Para esse público que trabalha o dia todo, o terceiro turno precisa ser adaptado. Essa adaptação tem que ser feita, porém, na medida do possível: a gente não pode tirar do aluno do noturno o direito de ter o mesmo conteúdo do diurno. Até porque, na hora de prestar uma prova, ele compete com todos os outros;, observa o professor de sociologia Marcelo Resende.

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