Jornal Correio Braziliense

Brasil

MP investiga racismo e discriminação em balada sertaneja de SP

O inquérito foi aberto após a criação de uma página no Facebook denunciando casos em que pessoas "fora do padrão de beleza" da casa e negros estariam sendo barrados



Segundo a promotora de Justiça Beatriz Helena Budin Fonseca, ;essa escolha de ;quem entra e quem não entra; tem a função de segregar e marcar a divisão entre pessoas que, embora morem na mesma cidade, não possuem a mesma classe social, a mesma cor de pele, o mesmo peso, ou a mesma beleza considerada como ideal pela representada."


A estudante Mariana*, uma das criadoras da página no Facebook, conta que a ideia de denunciar a casa noturna surgiu depois que uma menina divulgou a humilhação sofrida no estabelecimento em um grupo privado. Pouco tempo depois, após o desabafo, milhares de vítimas a procuraram para compartilhar as experiências vividas no local. ;A casa é muito preconceituosa e racista. Os promotores barram a entrada de quem é negro, acima do peso ou de pessoas que eles julgam não serem bonitas;, denunciou Mariana.

Segundo ela, enquanto o Villa Mix não se pronunciar e não mudar a atitude com os clientes, o grupo vai continuar com as denúncias. "Queremos também chegar a outras baladas e estabelecimentos que praticam a mesma atitude, classificando as pessoas de acordo com a etnia, aparência ou classe social;, explica.

A jovem Bianca* contou ao Correio que no aniversário de uma amiga entrou em contato com um promotor para conseguir entradas vip;s, que ofereciam insenção do valor da entrada, e o funcionário teria perguntado se as garotas eram bonitas. "Eu afirmei que sim e só então ele nos deu o aval. No dia do evento, fomos para a entrada e passamos por um processo seletivo realizado pelas atendentes. Por fim, elas alegaram que as cortesias estavam esgotadas. Espero que o meu depoimento ajude as pessoas a entenderem que não precisam ir para um lugar onde são julgadas e discriminadas a troco de nada."


De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, somente este ano foram registrados cinco boletins de ocorrência relatando agressões praticadas por funcionários da casa noturna. Diante do quadro, o delegado Anderson Giampaoli, responsável pela 96; Delegacia de Polícia, informou que há aproximadamente duas semanas o responsável pela segurança da casa noturna foi chamado à delegacia para prestar informações. ;Embora as vítimas sejam orientadas sobre a necessidade de manifestar o desejo pela continuidade das apurações, a falta de representação das vítimas impossibilita a investigação dos casos;, contou o delegado. Ainda segundo a SSP-SP, há também dois inquéritos em fase de conclusão e um aguardando a determinação da Justiça, envolvendo o Villa Mix.


Ao Correio, o Villa Mix disse que as acusações expostas na casa são consideradas caluniosas e difamatórias. ;Somos contra qualquer tipo de discriminação e não compactuamos, de forma alguma, com o que tem sido exposto nesse perfil. Prezamos pela qualidade da programação, além do conforto e segurança dos clientes, por isso não ultrapassamos a lotação máxima ; o que pode gerar filas e a impossibilidade de entrada de mais pessoas no local;.



Questionado sobre o ingresso VIP, o estabelecimento informou, em nota, que essa é uma política da casa e comum no mercado de festas noturnas de São Paulo. ;Os VIPs são oferecidos especialmente para patrocinadores, convidados de artistas e prestadores de serviços."

(*) Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.