O vazio deixado pela legislação e a falta de incentivos à cadeia da reciclagem deixam no abandono milhares de toneladas de grandes veículos, como aviões e trens, no fim da sua vida útil. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010, não trouxe regra específica para esse tipo de sucata, embora sempre valha a norma geral da destinação adequada e do veto a ações que causem poluição.
O acúmulo de aviões sem destinação podia ser visto facilmente nos aeroportos brasileiros há até pouco tempo. Eram pelo menos 60 aeronaves ; estruturas gigantes compostas basicamente de alumínio ; apodrecendo em pátios e pistas de decolagem. Os jatos Boeing 737-800, um dos modelos mais usados no Brasil, é composto por cerca de 40 toneladas de diferentes materiais, a maioria reciclável.
Antes de irem para a reciclagem, porém, boa parte das aeronaves brasileiras têm ainda uma segunda vida, em solo, como peça de museu ou estrutura para bares, boates e restaurantes. Uma das maiores fabricantes, a Airbus, estuda a melhor maneira de dar reutilização ou enviar para a reciclagem uma frota de cerca de 12 mil aviões que devem se aposentar nos próximos 20 anos ao redor do mundo.
A destinação para a reciclagem ; que ajudaria a diminuir o impacto sobre a extração de matérias-primas da natureza ; ainda é rara, devido à falta de regulação e de incentivo a essa indústria. Fabricantes e empresas aéreas preferem não lidar diretamente com esse assunto, repassando a tarefa para outros integrantes da cadeia ou para organizações especializadas.
;Como a gente vende o avião, ele passa a ser propriedade do comprador, geralmente uma empresa aérea;, argumenta a diretora de Comunicação da Boeing no Brasil, Ana Paula Ferreira. ;Aí, cada um tem sua própria política de descarte;, diz. A empresa, que produz, em média, 42 aviões por mês, pretende vender 3 mil novos aparelhos para a América Latina nos próximos 20 anos. Desse total, devem ser comercializadas para atuação no Brasil aproximadamente 1.200 aeronaves, que resultarão em algo como 48 mil toneladas de sucata num horizonte de cerca de 30 anos.
A Boeing (e também a brasileira Embraer) é associada à Aircraft Fleet Recycling Association (Afra), entidade com sede em Washington (EUA) que trabalha em conjunto com a indústria aeroespacial para dar destinação final ou reciclabilidade aos materiais. A associação conecta fornecedores e compradores.
Requisitos
Grandes fabricantes, como Boeing, Embraer e Airbus, desenvolvem programas para projetar e construir jatos mais fáceis de reciclar. ;Os aviões da Embraer são projetados com foco na inclusão de inovações e no cumprimento de requisitos ambientais desde seu desenvolvimento;, informou a Embraer.
A Gol informou que não trata da destinação adequada de veículos em fim de vida útil porque a maioria de suas aeronaves é adquirida por meio de leasing (arrendamento). ;Ao término do contrato, o aparelho é reconfigurado e entregue de volta ao fabricante;, disse a empresa, por meio de nota. A TAM informou que ;segue a legislação vigente relativa ao descarte de peças de aeronaves; e que ;possui fornecedores auditados e qualificados, que recebem os resíduos e os destinam para reciclagem, após descaracterização;.
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