Brasil

Sem acordo, greve nas universidades públicas caminha para quatro meses

Falta de recursos ameaça o funcionamento das instituições

Paula Braga
postado em 19/09/2015 08:05

A greve que atinge 63 universidades e institutos federais e já se arrasta há 111 dias é mais uma face da crise política e econômica enfrentada pelo governo federal. Ontem, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) enviou ao Ministério da Educação (MEC) nova proposta (a terceira desde maio) para pôr fim à paralisação. Mas não há previsão de retorno às aulas.

O documento pede a abertura de concursos para 9.331 vagas, liberação de verbas para conclusão e início de obras, reajuste de 19,7% no salário inicial até 2017 e reestruturação de carreira dos professores.

Segundo Paulo
Rizzo, presidente do Andes, a tesourada no orçamento levou as universidades ao limite operacional. ;Reitores das Universidades Federais da Bahia (UFBA), de Juiz de Fora (UFJF) e do Rio de Janeiro (UFRJ) me disseram ter dinheiro para pagar as contas de água e luz até o fim de setembro;, relata. ;Ou (o MEC) volta atrás nos cortes, ou as universidades vão fechar;, diz.

O orçamento da Universidade Federal de Juiz de Fora sofreu corte de R$ 36,2 milhões em 2015. No entanto, segundo a direção da instituição, a redução ainda não afetou a administração do câmpus. O pró-reitor de Planejamento e Gestão da UFJF, Alexandre Zanini, garantiu que ;a instituição tem recursos para fazer os pagamentos necessários e retomar as atividades tão logo as greves sejam encerradas.;

A UFRJ informou que recebeu R$ 70 milhões a menos que os
R$ 438 milhões previstos para 2015. Também não foram depositados outros R$ 70 milhões referentes ao exercício de 2014. Segundo a reitoria, a universidade ;enfrentou dificuldades para honrar diversos contratos no início do ano;.

Exigências
Para a reestruturação da carreira, o Andes reivindica que os professores com dedicação exclusiva ganhem 55% a mais em relação aos docentes com carga horária de 40 horas. Os ganhos de quem leciona 20 horas também deveriam equivaler à metade dos salários dos educadores que trabalham 40 horas por semana, de acordo com a proposta do sindicato.

Além disso, o Andes pede a manutenção do abono permanência, que permite ao professor, ao atingir a idade para se aposentar, não ter descontados do salário os impostos relativos à previdência. Na última segunda-feira, quando anunciou o novo pacote de corte nos gastos públicos, o governo sinalizou a revogação da medida. ;Se a medida se efetivar, teremos muitas aposentadorias imediatas;, prevê Rizzo.

Cortes na UnB

A paralisação de servidores técnico-administrativos e os cortes orçamentários também começam a atingir a Universidade de Brasília (UnB). Por conta da greve dos funcionários, as atividades da biblioteca estão paralisadas por tempo indeterminado desde agosto.

Os cortes começaram no início deste ano e afetaram os contratos terceirizados e as construções em andamento na universidade. ;Estamos priorizando as obras que haviam sido iniciadas;, explicou o decano de Planejamento e Orçamento, César Tibúrcio. A expectativa da UnB era de investir R$ 60 milhões em obras, mas Tibúrcio prevê que, em 2015, apenas metade do valor seja destinado a essa finalidade.

Outra área que deve ser afetada pela falta de recursos orçamentários são os contratos terceirizados. ;Estamos renegociando todos, menos os de segurança;, explica o decano. Segundo ele, a universidade está no limite do orçamento previsto em lei e conta com os repasses do governo federal para finalizar o ano. ;Não podemos prever como será o restante do ano para a instituição. Estamos contando com essa verba, ou pelo menos uma parcela. Espero que não passemos por situações mais graves, como não conseguir arcar com as contas básicas;, admite.

No Hospital Universitário de Brasília (HUB), o atendimento nas áreas prioritárias não foi afetado pela greve dos servidores até o momento. Na terça-feira, os trabalhadores da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) entraram em greve por tempo indeterminado. Eles reivindicam melhores benefícios, mas os serviços do hospital não foram paralisados.

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