postado em 02/11/2015 12:12
A tradicional Caminhada pela Vida e pela Paz que ocorre sempre no dia de Finados, 2 de novembro, na região do Jardim Ângela, zona sul paulistana, completou 20 anos nesta edição. O ato começou em 1996, quando o bairro foi apontado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a região urbana mais violenta do mundo, com 130 mortes para cada 100 mil habitantes. Na mesma época, foi criado o Fórum em Defesa da Vida, que reúne os moradores mensalmente para discutir melhorias para a região e formas de promover a paz. Eles destacam, como uma das conquistas dessa organização, a construção do Hospital do M;Boi Mirim, inaugurado em 2008.A celebração teve início por volta das 8h30 na Paróquia dos Santos Mártires e seguiu em caminhada, por duas horas, para o cemitério do Jardim São Luís, onde ocorreu uma missa. ;É lá que estão enterrados os nossos jovens devido a vulnerabilidade social;, destacou o psicólogo Agnaldo Vieira, um dos coordenadores do fórum. O tema deste ano é ;Mortes e prisões não geral soluções de paz;. ;O tema tem a ver com os 20 anos que é uma marca de resistência a ser comemorada e tem relação ao estado de violência com jovens negros da periferia. Tivemos a grande presença da juventude da região que votou na assembleia este tema;, explicou.
Vieira destacou ainda que a proposta se contrapõe à redução da maioridade penal. ;Uma das ações pós-caminhada será a elaboração de um tribunal popular aqui, onde vamos solicitar a construção de mais salas de aula, construção de parques lineares na região, bibliotecas públicas para aí, sim, se pensar em debater alguma questão em relação ao jovem. Não é possível reduzir a maioridade penal, se não temos acesso ao básico que é direito;, explicou. Entre os dias 29 e 1;, as oportunidades para a juventude foi um dos assuntos tratados na sexta edição do Fórum Social da Sul, que ocorre a cada dois anos, uma iniciativa do Fórum em Defesa da Vida.
A doméstica Adailza Nascimento, 66 anos, mora no Jardim Ângela há mais de 40 anos e faz questão e celebrar o Dia de Finados na caminhada. ;Já perdi as contas de quantas vezes eu vim. Daqui ainda vou para outro cemitério visitar os túmulos do meu pai, minha mãe, meu irmão. Hoje, o dia é caminhada;, disse. A metalúrgica Izaura Aparecida, 42 anos, também participa desde o início e avalia que a união dos moradores trouxe melhorias para o bairro. ;Melhorou, sim, mas ainda tem muita coisa para fazer. A gente ainda sofre muito preconceito, porque as pessoas acham aqui perigoso. Falar Capão Redondo [bairro da região] é a morte;, lamentou.
Durante a missa, no Cemitério São Luís, 20 jovens participaram da celebração vestindo camisas, representando cada ano da caminhada. O padre Jaime Crowe, da Paróquia Santos Mártires, destacou a camiseta do nono ano que tinha como lema ;Amar e desamar;. ;No Congresso Nacional, estão trabalhando para mudar o Estatuto do Desarmamento. Nós sabemos o quanto fizemos para ter ele aprovado. Agora, a serviço da indústria das armas, a bancada da bala quer mudar a lei;, criticou.
A Guarda Civil Metropolitana estimou que 650 pessoas participaram do ato. A organização não indicou um número.