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"Vi minha casa coberta de lama", diz sobrevivente da tragédia em Mariana

Na sede do município, angústia dominava parentes de desaparecidos após rompimento de barragens varrer Bento Rodrigues

Mateus Parreiras/Estado de Minas, Rodrigo Melo/Estado de Minas, Landercy Hemerson
postado em 06/11/2015 09:12
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Mariana, Minas Gerais ;
O cenário era devastador, como se um tsunami tivesse varrido o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. Ao redor, agonia, incerteza e dor, muita dor. Mais do que isso, medo. Moradores, parentes das pessoas que trabalhavam na área em que se rompeu a Barragem Fundão, da mineradora Samarco, permaneciam em estado de choque com a tragédia que provocou pelo menos uma morte.

[SAIBAMAIS];Perdi tudo, mas, graças a Deus, minha esposa e minha filha estão bem, eu estou bem;, desabafava, emocionado, Fernando Santos, de 33 anos. Ele é uma das pessoas que conseguiram escapar. ;Eu estava trabalhando, fui avisado e saí correndo. Foram horas de angústia, quase seis. Ficamos ilhados;. Como outras pessoas, ele buscou os pontos mais altos do lugar. ;De lá, felizmente consegui falar com minha mulher pelo telefone. Ela estava em outra parte alta, com minha filha. Elas estavam assustadas, mas bem;.

Outro morador, Cleiton Jacques, de 24 anos, também buscou refúgio num dos locais em que o terreno era elevado, depois de ser alertado por vizinhos. ;Eu e um colega conseguimos abrir uma trilha no meio do mato e subimos. Acho que muita gente escapou desse mesmo jeito. Ao chegar à parte alta, havia por lá cerca de 200 pessoas;. Mesmo com medo, elas ficaram à espera de socorro. Bento Rodrigues tem cerca de 620 habitantes. Sidney Paula, de 36 anos, vivia a incerteza sobre o destino dos pais, até que Cleiton o tranquilizou, contando que não haviam se ferido. ;Passei oito horas de agonia, sem notícias deles;, relatou.

Na sede do município, angústia dominava parentes de desaparecidos após rompimento de barragens varrer Bento Rodrigues

Em Mariana, havia dezenas de voluntários, um corre-corre intenso, movimentação de ambulâncias e muita desinformação. Ronaldo Antunes Xavier, de 28 anos, beirava o desespero, porque não tinha localizado o irmão, Marcos Roberto Xavier. ;Um dos sobreviventes contou que meu irmão estava trabalhando num dos dois tratores que foram arrastados. Até agora, ninguém falou nada para a gente. Fui até a portaria da Samarco e nos direcionaram para cá (a Arena). Fomos ao hospital e nos mandaram de volta. A esposa dele está em estado de choque. Tem dois filhos. Está desesperada;.

Fabiana Conceição Sabreira, de 21 anos, estava no Hospital Monsenhor Horta com a filha, Maria Fernanda, de 2 anos, para ser atendida. Ela havia inalado muito gás, cuja origem a mãe não soube explicar. O desespero maior, descreveu, foi chegar até lá. ;Peguei a estrada e estava totalmente interditada por causa da lama. De lá vi minha casa inteiramente coberta. Liguei para meu pai, ele me buscou e fomos por outro caminho;.

Além do Hospital Monsenhor Horta, preparado para receber feridos de maior gravidade, as policlínicas de Mariana e do distrito de Santa Rita Durão estavam atendendo as vítimas. Parte foi encaminhada para o HPS, em Belo Horizonte. Até o fim da noite, o movimento era intenso. ;Estou muito desnorteado, foi uma catástrofe. Todos estão desnorteados. Estamos pedindo a Deus para que as pessoas tenham conseguido sair dos locais mais atingidos a tempo;, disse o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, de 34 anos.



Havia apoio montado não só no principal ginásio da cidade, a Arena Mariana, como pousadas e hotéis se mobilizavam para acomodar os desabrigados. A Prefeitura de Ouro Preto havia enviado 10 ambulâncias. A Santa Casa local e a Unidade de Pronto Atendimento (Upa) estavam mobilizados para o atendimento imediato.

Inicialmente, duas equipes da Defesa Civil de Minas Gerais com suporte de quatro aeronaves da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte cuidariam do resgate de pessoas ilhadas. A dificuldade de acesso, diante do mar de lama, era um desafio extra aos bombeiros.

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