Brasil

Após passagem de lama das represas, cenário no Rio Doce é desolador

Desde o rompimento de barragens, o Rio Doce se transformou em uma corredeira lamacenta ladeada por montes de galhos, lixo, entulho e animais em decomposição

Renan Damasceno/Estado de Minas
postado em 10/11/2015 09:38
O rio que sustenta uma das regiões mais importantes de Minas Gerais é desde sábado uma corredeira de água barrenta, margeada por um emaranhado de troncos de árvores, animais em estado de putrefação, garrafas PET, peças de roupas e toneladas de peixes podres disputados por urubus. Não bastassem a poluição, o esgoto sem tratamento e o desmatamento da mata ciliar que o minam a cada ano, o Rio Doce sofre agora com o lamaçal que escorreu das barragens de rejeito da Samarco, que se romperam na última sexta-feira (6/11) em Mariana. Os primeiros atingidos foram os rios Gualaxo e Carmo ; este último, ao se unir ao Piranga forma o Doce ;, por volta das 6h da manhã de sábado, menos de 14 horas depois do rompimento do primeiro reservatório, a cerca de 125 quilômetros de distância.

[SAIBAMAIS]O cenário é desolador em Rio Doce, cidade da Zona da Mata onde os rios se encontram. De uma ponte, na entrada da cidade, os moradores assistem à força da água enquanto apontam restos de animais mortos e objetos carregados pela correnteza. A água subiu cerca de quatro metros, obrigando a Usina Risoleta Neves a abrir as comportas, abrindo caminho para a lama escorrer rumo à foz. ;Tivemos que abrir, porque não suportou a lama, senão iria estourar tudo. Foi impressionante a força. Nós fizemos um trabalho de reflorestamento de mata ciliar, para recompor nascentes, e a água levou tudo. Não sobrou nada;, lamenta Carlos Eduardo, presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piranga, que se preocupa com a piora do assoreamento da região. ;Quando começar a secar, a lama vai acabar decantando, e a situação, que já é grave, vai piorar. Os peixes não têm mais oxigênio.;



O antigo Lago Candonga, que se formava por causa da represa da usina, não existe mais. ;Ficou só isso aí, uns troncos de árvore;, lamenta Denner Lucas, vigia da usina. ;Antes, eram cinco carros aqui parados para pescar: pintados, carpas. Agora, só se for para brigar com urubu. É muito triste ver tudo acabado assim;, comenta o gesseiro Sidney Paulino, da vizinha Dom Silvério.

Sem atividade
A situação continua grave à medida que a lama de rejeitos avança rumo à foz. Até a Cenibra, gigante da celulose, teve de interromper atividades em duas linhas de produção em Belo Oriente, devido à impossibilidade de usar a água do Rio Doce.

Em poucos minutos à beira do rio, é de impressionar a quantidade de peixes que descem boiando. ;Tem até peixe de uns 20 quilos descendo;, afirma o operador de máquina Gerimal da Silva Flaver, que trabalha em um areal em São José do Goiabal, no Vale do Aço. Ele está sem serviço, porque a dragagem teve de ser interrompida na sexta-feira, por causa da sujeira nos bancos de areia. "Não sei quando volto a trabalhar", comenta. Perto dali, uma balsa privada que liga o município à vizinha São Pedro dos Ferros voltou a funcionar ontem, depois de ficar dois dias parada por causa do nível do rio, que subiu 3,30 metros no local. Ontem, segundo o piloto da balsa, o rio ainda estava 50 centímetros acima do normal.

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