Brasil

ONG divulga em outdoors mensagens racistas publicadas nas redes sociais

Comentários são reproduzidos perto das residências dos supostos agressores. Objetivo é inibir este tipo de crime

postado em 10/11/2015 21:20

Motivada pelas ofensas raciais sofridas por Maria Júlia Coutinho, do Jornal Nacional, nas redes sociais, uma ONG do Rio de Janeiro expôs as mensagens em outdoors das cidades onde ocorreram as postagens. Formada por 50 mulheres negras, a Criola espalhou os comentários próximo às residências dos supostos agressores. Com o slogan ;Racismo virtual. As consequências são reais;, a campanha foi divulgada, além do Rio, em Porto Alegre, Americana (SP), Feira de Santana (BA), Recife e Vila Velha (ES).

;Nosso principal objetivo não é ter racistas na cadeia. É evitar este tipo de crime;, contou a médica Jurema Weneck, 53 anos, idealizadora da campanha e fundadora da Criola. Ela afirmou que a intenção de expor os comentários racistas perto das casas dos supostos autores é fazê-los se arrepender do ato. ;Queremos que a família e a vizinhança deles se conscientizem sobre o quanto isso é doloroso;, acrescentou.

Jurema contou também que a identidade dos supostos agressores foi preservada para não iniciar uma possível perseguição a eles.

;Às vezes, racistas criam perfis falsos e acham que estão confortáveis e escondidos, que está seguro das leis contra racismo de fora do ambiente virtual por causa do anonimato;, comentou. A médica relatou ter sofrido racismo pela primeira vez aos 6 anos. Hoje, aos 53, ela disse que continua sendo alvo de deste tipo de crime. ;No mês passado, eu estava em uma lanchonete e um homem de repente começou a fazer xingamentos ao meu ouvido;, relembrou.

Um dos objetivos da ONG é divulgar a campanha por todo o Brasil. Para isso, a Criola negocia com agências de comunicação em espaços públicos que se voluntariem a ceder os locais para a exposição das ofensas postadas na web.

Repercussão nacional

Em julho, a jornalista Maria Júlia Coutinho foi alvo de comentários racistas nas redes sociais, como "Só conseguiu emprego no por causa das cotas preta imunda" e "Em pleno século 2015 ainda temos preto na TV". O caso teve grande repercussão na web. Celebridades e colegas de profissão saíram em defesa de Maju e a tag #SomosTodosMajuCoutinho ganhou as plataformas.

Neste mês, outra personalidade foi vítima de racismo na internet. Seguidores da atriz Taís Araújo publicaram mensagens como "Quem postou a foto desse gorila no Facebook" e "Criola vadia". Ela denunciou o caso e a polícia do Rio de Janeiro abriu inquérito para localizar e punir os agressores.

Racismo virtual
Em outubro, a ONG encomendou uma pesquisa a uma agência, que monitorou redes sociais de 30 do mês passado a 5 de novembro, e identificou mais de 200 mil comentários de cunho racista. ;Nem todos eram, de fato, racistas. Alguns eram respostas a este tipo de crime;, explicou Jurema.

Para filtrar por estado e por redes sociais ofensas de cunho racista, homofóbico, machista e sexista, o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos prevê o lançamento do Monitor de Direitos Humanos neste mês. A ferramenta funcionará em um site com endereço ainda não divulgado e objetiva acompanhar manifestações que possam ferir os direitos humanos. Ela também vai reverberar de forma antecipada o surgimento de grupos de apoio e luta por direitos das minorias referidas no site.

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