[SAIBAMAIS]Nina não sabia se chorava, brincava ou latia. Ontem, ao reencontrar o açougueiro Aguinaldo Pereira Gonçalves, seu dono há oito anos, a cadela demonstrou uma mistura de sentimentos que podiam apenas ser decifrados pelo sorriso de Aguinaldo. ;Fiquei feliz demais. Quando eu vi a foto e soube que ela estava aqui, vim correndo procurá-la;, conta o morador de Bento Rodrigues, que teve a casa destruída com o rompimento das barragens da Samarco (mineradora controlada pela Vale e BHP Billiton).
Aguinaldo perdeu a casa e o açougue de onde tirava o sustento da família formada por ele, a mulher e dois filhos. Além disso, muitas vacas de sua criação e vários amigos da comunidade que estão desaparecidos. Mas, mesmo assim, conseguiu viver instantes de alegria ao reencontrar sua cadela Nina, no canil de Mariana. A fotografia de Nina sendo resgatada por um bombeiro, na segunda-feira, em Paracatu de Baixo, correu o mundo ao ser divulgada pela agência de notícias Agence France-Presse (AFP).
Nina pesa mais de 30 quilos, estima Aguinaldo, e, coberta de lama, foi carregada no colo pelo bombeiro. Quando ele chegou ao canil e Nina escutou a voz do dono, ela despertou e começou a chorar. Segundo os funcionários do Cão Saúde, terceirizado da prefeitura de Mariana, Nina estava muito cansada e tomando soro na veia para se recuperar. A cadela, que teve filhotes recentemente, se tornou a estrela do canil devido à repercussão da imagem.
Ainda com os pelos do dorso sujos, Nina não desgrudava de Aguinaldo, que comprou a cadela há oito anos de um primo, por pouco mais de R$ 50. ;Ela é muito dócil, tinha uma casinha para ela na garagem, e sempre que chegava alguém ela latia;, descreve, calculando a idade da cadela entre 10 e 11 anos.
O açougueiro e a família estão em uma pousada em Mariana e não podem levar Nina para ficar com eles. Por isso, ele decidiu deixar o animal mais uma noite no canil e hoje cedo a levará para o sítio de um amigo.
Só no canil de Mariana já chegaram 37 cachorros e quatro gatos. Ainda não foi feito um levantamento para saber o número de identificados. Gleiziane Maele, moradora de Bento Rodrigues, que trabalha como atendente de lanchonete em Mariana, também foi ao canil na tarde de ontem buscar seu cachorrinho. No momento da ruptura das barragens, ela estava fora. ;Minha mãe tomava banho e meu irmão assistia à televisão, mas eles conseguiram escapar;, recorda. A cadelinha pincher Milady estava desaparecida. ;Eu fiquei preocupada demais com ela, mas ainda bem que ela foi salva e está aqui;, disse aliviada, com a cadela no colo.