Brasil

Dilma fala em multa à Samarco e promessa de água para Governador Valadares

Sem descer em Mariana, Dilma sobrevoa área mais devastada e anuncia punição de R$ 250 mi à Samarco. Exército deve ajudar no abastecimento de Valadares

Guilherme Paranaiba/Estado de Minas
postado em 13/11/2015 08:39
A presidente Dilma Rousseff e o governador Fernando Pimentel sobrevoaram áreas devastadas pela lama que desceu das duas barragens
Sem previsão para o retorno da captação, tratamento e distribuição da água do Rio Doce aos cerca de 280 mil moradores de Governador Valadares, cidade mais importante da região cortada pelo manancial federal, o epicentro da crise causada pelo rompimento de duas barragens da Samarco em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, momentaneamente mudou de lugar. O ápice dos problemas se deslocou da Região Central de Minas para Valadares, no Vale do Rio Doce, onde a falta de água provoca desespero na população. Uma semana depois da tragédia, a presidente Dilma Rousseff veio a Minas Gerais, onde ficou pouco mais de cinco horas. Desembarcou às 10h10 no aeroporto da Pampulha, em BH, e seguiu para Mariana, mas não desceu em Bento Rodrigues, distrito devastado pelo rompimento das barragens, apenas sobrevoou de helicóptero. Depois seguiu para Governador Valadares, onde chegou às 13h e de onde partiu para Colatina às 15h30. A presidente anunciou uma multa de R$ 250 milhões à Samarco pelos danos causados ao meio ambiente. Por volta das 15h, moradores de Valadares bloquearam a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), em protesto contra a Vale, uma das controladoras da Samarco.

[SAIBAMAIS]Dilma prometeu empregar o Exército na solução do problema de Valadares. As possibilidades são a construção de uma tubulação que vai levar água do Rio Suaçuí Pequeno até a principal estação de tratamento de água (ETA) da cidade e também o uso de caminhões-pipa cedidos pela empresa e pelo Exército. Relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que 50 milhões de metros cúbicos de resíduos da mineração foram despejados no ecossistema.

Em Valadares, Dilma cobrou ações da Vale e da BHP Bilinton, operadoras da dona das barragens. ;As empresas têm que ser responsabilizadas por várias coisas. Primeiro, pelo atendimento emergencial da população. Segundo, pela busca de soluções mais estáveis, mais perenes, e, terceiro, pela reconstrução e pela capacidade de resolver os problemas da vida de cada um dos afetados por esse desastre;, disse. Como solução para a crise enfrentada por Valadares, que está sem água desde terça-feira, Dilma disse que será construída uma tubulação com adutoras de engate rápido, para retirar água do Rio Suaçuí Pequeno, um dos afluentes do Doce, e levar até a principal estação de tratamento de Valadares. Para isso, a presidente designou o secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, Adriano Pereira, responsável por articular junto à comissão montada pela prefeita Elisa Costa (PT).



Recuperação
O secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sávio Souza Cruz, informou que esse trabalho pode durar cerca de 20 dias. ;A experiência mostra que em média a capacidade de construção é de 700 metros por dia. São 15 quilômetros do ponto de captação até a estação de tratamento;, afirma Sávio. Sem ter certeza do que pode acontecer, a população sofre com a escassez hídrica. Quem tem dinheiro encontra dificuldades para comprar água. Quem não tem, sofre com a falta dela. Dono de uma fábrica de salgados, o empresário Felipe Almeida, 27 anos, tem passado os dias em busca de água para a produção não parar completamente.

;A situação está muito difícil. Alguns clientes, como escolas, já não estão funcionando, o que já fez cair o faturamento. Funcionários reclamam que vão trabalhar sem tomar banho e sem roupa lavada. Tudo aqui é muito incerto, não sabemos o que pode acontecer nos próximos minutos sem água;, diz. O empresário também relatou serem comuns os furtos a estabelecimentos que comercializam água. ;A população está em pânico;, completa. Os moradores de bairros mais afastados têm recorrido a córregos e riachos, mas são os poços artesianos que se tornaram a salvação momentânea dos cerca de 280 mil habitantes da maior cidade do Leste mineiro. ;Temos um poço na minha chácara e vai ser de lá que vou distribuir a água para meus parentes que estão sem. É a única fonte de água que a gente vai ter enquanto não resolver, porque nem prazo a gente tem;, lamenta Diego Gonçalves, de 19 anos.

Na terça-feira, a prefeita Elisa Costa (PT) assinou um decreto que permite que a água de poços artesianos particulares sejam compartilhados. ;Posto de gasolina, residências, empresas têm esses poços de captação. Nós assinamos um decreto que permite que essa água seja oferecida à população e estamos pedindo para que se faça doação;, explicou. O empresário Alcides Caumo, dono de um hotel e churrascaria no centro da cidade, reativou um poço artesiano. ;Nosso poço estava desativado há 15 anos. Vamos fazer a análise já que o que temos na caixa não vai durar muito tempo;, afirma.

Fila para pegar água potável em Valadares, um drama diário que assola a população desde terça-feira

Protesto
Por volta das 15h, moradores fizeram uma manifestação contra a falta de água e colocaram fogo em pneus na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). Segundo a prefeitura, as composições de passageiros já tinham passado, tanto a locomotiva em direção a Belo Horizonte quanto o trem sentido Vitória. O protesto terminou no fim da tarde e a Polícia Militar registrou uma ocorrência pelo dano na estrutura da linha, já que alguns dormentes foram queimados. A Vale informou em nota que disponibilizou quatro vagões-tanque para transporte de 240 mil litros de água de Ipatinga para Valadares. A empresa também comunicou que outros 14 vagões de carga estão à disposição para transportar galões de água de doações e que nos próximos dias vai distribuir 25 mil litros de água mineral em galões de cinco e 20 litros. A assessoria de imprensa da Samarco informou que enviou 2,5 milhões de litros de água à Valadares, além de 13 mil litros de água potável. A partir de hoje, a empresa diz que a ajuda será de 2,4 milhões de litros por dia.

Crítica
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, criticou a postura de Dilma em relação à catástrofe em Minas. Em sua página no Facebook, ele afirmou: ;Triste ver a pouca solidariedade que a presidente demonstrou em relação às vítimas da tragédia que ocorreu em Mariana. Ao decidir ir a Minas somente uma semana depois do desastre e depois das muitas críticas à sua postura de indiferença, a presidente deixa uma marca pessoal que não será esquecida pelos mineiros;. E completou: ;É lamentável que a presidente não tenha nem sequer descido na cidade (Mariana) para ouvir os moradores e conhecer de perto a situação, tendo se limitado apenas a sobrevoar a área atingida. É realmente uma forma diferente de demonstrar solidariedade;.

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