postado em 20/11/2015 06:10
A dispersão da lama proveniente das barragens da empresa Samarco que romperam em Mariana há 15 dias pode se estender por 3km em direção ao norte e 6km em direção ao sul quando elas atingirem o mar pela foz do Rio Doce, no município de Linhares, no Espírito Santo, de acordo com informações da ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A Justiça Federal no Espírito Santo deu prazo de 24 horas para a empresa evitar danos provocados pela lama na foz do Rio Doce.Ambientalistas advertem que há perigo de a lama tóxica atingir o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, no sul da Bahia, que guarda rica diversidade, incluindo uma barreira de corais, sensíveis às variações na qualidade da água.
Independentemente disso, a ministra voltou a classificar o rompimento da barragem como ;o maior desastre ambiental do país;. Para sustentar as estimativas, a ministra citou dados preliminares de uma modelagem em desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. O arquipélago de Abrolhos está localizado 250km ao norte da foz. Do ponto do vazamento das barragens até o mar, a lama terá percorrido 657,4km.
[SAIBAMAIS];As correntes estão na direção do sul, não do norte. Não há (esse risco) nas informações disponíveis até agora na modelagem feita pelo professor Paulo Rosman, da Coppe/UFRJ. Obviamente, os dados são preliminares com base em vazão, concentração de sedimentos. Isso pode mudar no tempo, com o acompanhamento da lama;, afirmou a ministra. ;Não há expectativa de chegar a Abrolhos. Nem mesmo a Vitória, que está a 120 km dali;, disse.
A ministra confirmou, porém, que a lama vai chegar ao mar e terá impactos. ;Agora, como a lama vai chegar, em qual quantidade, se vai mais para o fundo, isso depende de como vai entrar (no mar), considerando que a foz do rio está assoreada. Então, tenho um ambiente estuarino antes de chegar ao mar. Vai ser um grande impacto, provavelmente, nesse ambiente estuarino. As pessoas estão trabalhando na prevenção,; disse Izabella Teixeira.
Mesmo nessa faixa de dispersão, porém, a lama deve provocar danos, principalmente sobre os recursos pesqueiros. A ministra reconheceu o problema. ;(Nessa área) tem crustáceo, vai ter impacto, mas fizemos um canal de desvio (na foz do rio, a fim de facilitar a dispersão da lama) para não pegar a área de desova da tartaruga-de-couro (espécie ameaçada de extinção que vive no local).; O projeto Tamar recolhe os ovos do animal para tentar preservá-los.
;Impacto vai ter, como teve no Rio Doce, no trecho de Minas, onde a ictiofauna (conjunto de espécies de peixes de um rio) acabou. A calha do rio principal ficou impossível, especialmente para os peixes de fundo. Porque, dos peixes de superfície, muitos conseguiram migrar para os tributários, mas estão morrendo. A fauna ribeirinha foi impactada. É a maior catástrofe ambiental do País, isso é inegável;, diz.
Boias
Boias infláveis estão sendo usadas pela mineradora Samarco para tentar conter danos na foz do Rio Doce. As boias são similares às usadas em acidentes com vazamento de petróleo e é a primeira vez que são aplicadas em acidentes na área da mineração. No total, a cerca deve envolver nove quilômetros da foz, em áreas sensíveis como mangues e ilhas.
A onda de rejeitos proveniente do rompimento das barragens em Mariana atingiu ontem a cidade de Colatina. O próximo destino é Linhares, onde a mancha deve chegar no fim de semana. Em Colatina, o abastecimento para 120 mil pessoas teve de ser interrompido em razão da poluição, e a prefeitura local adotou um plano emergencial com caminhões-pipa e caixas d;água públicas para atender à população.
A Samarco está otimista quanto à eficácia dos equipamentos chamados de barreiras offshore e seafences. ;É difícil definir que seja 100% eficaz, porque existem muitos pontos irregulares no rio. Pode sim haver algum tipo de passagem, mas infinitamente menor do que seria sem a barreira;, disse Alexandre Souto, gerente-geral de estratégia e gestão da Samarco e representante da empresa em Linhares.