Em rede nacional, a apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga revelou ter descoberto um câncer de pulmão e se submetido a cirurgia para retirada do tumor. Disse também que fumou ;durante muitos anos; e que, em setembro, época do diagnóstico, decidiu parar com o cigarro. Essa decisão da apresentadora tem incidência cada vez mais alta entre os brasileiros. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de produtos derivados do tabaco caiu em todo o mundo. Nos últimos oito anos, o número de fumantes acima de 18 anos no país foi reduzido em quase um terço, e o mercado do tabagismo encolheu frente a política de controle do tabagismo que o Brasil adotou desde dezembro de 2014 com a Lei Antifumo. O volume de cigarros introduzidos no mercado encolheu em 360 milhões de 2013 para 2014, segundo a Autoridade Tributária e Aduaneira.
Ainda que os números sobre uso de cigarro estejam caindo no Brasil e no mundo - a OMS prevê que, em 2025, oito em cada dez adultos não fumarão - eles ainda assuntam. A organização divulgou este ano, por meio do relatório sobre Tendências no Uso de Tabaco que cerca de 2 bilhões de pessoas fumam, o equivalente a pouco menos de um terço da população mundial.
O Correio entrevistou dois especialistas para mostrar que o famoso clichê dos ;males do cigarro; é bem pior do que se imagina, e precisa ser combatido com mais armas do que as advertências do Ministério da Saúde.
PULMÃO É SÓ O COMEÇO
Segundo o Instituto Brasileiro de Controle de Câncer, um tabagista tem sete vezes mais chances de desenvolver câncer de boca, língua, bexiga ou garganta. Pior: aliado ao álcool, as chances de desenvolver algum câncer aumentam. O tabagismo é um fator importante para o desenvolvimento não só de câncer, mas de outras Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) ; como as pulmonares e as cardiovasculares.
O câncer de pulmão é o mais devastador e o segundo que mais mata pessoas do sexo masculino atualmente. De acordo com o pneumologista Ricardo Martins, do Hospital Universitário de Brasília (HUB), já há estudos encaminhados para comprovar a relação entre o cigarro e outros cânceres como o de cérebro, de mama e de rins.
PAREI DEPOIS DO DIAGNÓSTICO... ADIANTA?
O fumante que for diagnosticado com câncer ou alguma doença crônica respiratória deve abandonar o cigarro para aumentar as chances de sucesso do tratamento. ;O cigarro reduz muito a proteção do organismo contra as celulas cancerígenas. Está comprovado que a pessoa que desenvolve câncer de pulmão e para de fumar, tem mais chance de responder ao tratamento do que aquela que continua fumando;, explica o pneumologista Ricardo Martins, do Hospital Universitário de Brasília. Além disso, manter o vício eleva o risco de outras doenças, claro.
[SAIBAMAIS] COMPORTAMENTO vs. GENÉTICA
Na medicina, muitos estudos tentam entender a relação entre fatores genéticos e desenvolvimento de câncer. No início do ano, a atriz Angelina Jolie fez uma cirurgia de retirada dos ovários e das trompas como medida preventiva contra câncer em função do histórico familiar.
No caso do câncer de pulmão, a principal causa que leva a pessoa a desenvolvê-lo é mesmo o uso de cigarro. ;As pessoas que têm histórico da doença na família contam com um risco adicional, pois mostra que a genética é suscetível, mas o de pulmão não tem caráter hereditário. Não existe essa causa e efeito genético;, explica Ricardo Sales de Santos.
NO RANKING DA MORTE
No Brasil, o câncer que mais mata homens é o de próstata, seguido pelo de pulmão. E entre as mulheres, o campeão é o câncer de mama. O médico Ricardo Sales dos Santos conta que, na Europa e nos Estados Unidos, o câncer de pulmão é o mais fatal e explica o motivo: seu diagnóstico é o mais difícil, pois depende de tecnologia. No caso do câncer de mama, os sintomas podem ser visíveis, e no caso do de próstata, o exame é mais acessível.
TEM ENFISEMA TAMBÉM
Entre os efeitos do uso prolongado do cigarro está o risco de desenvolver, além de câncer, enfisema pulmonar. A doença crônica caracteriza uma destruição dos tecidos pulmonares de maneira gradual e normalmente se deve ao tabagismo. De acordo com o cirurgião torácico Ricardo Sales de Santos, do Hospital Albert Einsten, em São Paulo, não há relação direta entre a doença e o câncer de pulmão. ;A pessoa pode não desenvolver a enfisema e ter o tumor. Ou pode ter a enfisema e nunca desenvolver o tumor;, completa.
QUERO PARAR ANTES DO CÂNCER... E AGORA?
É importante que a pessoa que deseja parar de fumar procure ajuda. Os efeitos para quem deixa de fumar em curto prazo são nervosismo, ansiedade e até depressão. O profissional vai auxiliar terapias comportamentais e prescrever medicamentos. Esses medicamentos fazem a reposição de nicotina, principal substância que causa vício. Mas o pneumologista Ricardo Martins chama a atenção para utilização desse medicamento temporário: ;Alguns acham que apenas a medicação resolve. É preciso um esforço pessoal para "reprogramar o cérebro" e afastar o vicio do cigarro, porque, sem dúvida, fumar dá prazer à pessoa, embora aniquile a saúde dela;. Segundo o médico Ricardo Sales dos Santos, as chances de sucesso no tratamento é potencializada pela união de medicamento com auxílio de profissionais: ;Quando a pessoa tenta parar de fumar sozinha, apenas uma em dez consegue. Quando a pessoa conta com ajuda, esse percentual sobe: 3 a 5 pessoas em 10.;