Brasil

DNA: mulher não é neta de uma das fundadoras das Avós da Praça de Maio

Clara Anahí foi sequestrada por um policial depois que sua mãe, Diana Teruggi, foi assassinada junto a outros três militantes

Agência France-Presse
postado em 26/12/2015 17:23

O anúncio de que Clara Anahí era a neta 120 roubada há 39 anos durante a ditadura militar na Argentina foi "um erro de comunicação", disse neste sábado Juan Martín Padilla, porta-voz de María "Chicha" Mariani, a avó e uma das fundadoras das Avós da Praça de Maio, que promete continuar com sua busca.

Clara Anahí foi sequestrada por um policial depois que sua mãe, Diana Teruggi, foi assassinada junto a outros três militantes

"Foi um erro de comunicação bem intencionado de pessoas que gostam muito de ;Chicha; Mariani", disse Padilla, acrescentando que a pessoa que fez o anúncio "se deixou levar pela emoção de uma pessoa que se apresentou com um exame que mostrava um resultado positivo" de testes de DNA.

Padilla explicou que Mariani "está muito triste e sentida". ""Estivemos com ela há pouco e nos pediu para falar com vocês" (jornalistas).

O porta-voz e também biógrafo de Mariani garantiu que a busca da neta prossegue. "A partir desta casa vamos seguir trabalhando, como sempre, em busca da memória, da verdade e da justiça".



A notícia de que Clara Ahaní havia sido encontrada, divulgada pela Fundação Anahí dedicada a sua busca, comoveu os argentinos na véspera de Natal e inclusive o presidente Mauricio Macri expressou sua alegria no Twitter.

Foram divulgadas fotos de um encontro entre ambas e a própria Mariani confirmou a informação, dizendo que estava muito feliz.

Mas a Unidade Especializada em casos de Apropriação de Meninos e Meninas informou posteriormente que duas análises genéticas oficiais descartavam a descoberta da neta 120 anunciada na quinta-feira.

O promotor encarregado da Unidade Especializada em casos de Apropriação de Meninos e Meninas, Pablo Parenti, esclareceu neste sábado que "não houve qualquer erro do Banco Nacional de Dados Genéticos" no caso, segundo o jornal La Nación.

"A análise está perfeitamente feita e voltou a dar negativo, não há qualquer correspondência genética entre a suposta neta e Mariani".

A notícia do achado foi baseada em uma análise genética privada fornecida por uma mulher de 39 anos e que supostamente havia dado 99,9% de compatibilidade "após um rigoroso mecanismo de determinação", dizia o comunicado da Fundação Anahí.

O caso Clara Anahí é emblemático porque se tornou conhecido em todo o mundo através da divulgação de cartas abertas escritas por Chicha Mariani a sua neta.

Uma foto de Clara Anahí ainda bebê foi reproduzida durante décadas em todos os aniversários da menina, enquanto as redes sociais fizeram eco das buscas da agora mulher de 39 anos.

Em 24 de novembro de 1976 Clara Anahí, uma bebê de apenas três meses, foi sequestrada por um policial depois que sua mãe, Diana Teruggi, foi assassinada junto a outros três militantes do grupo guerrilheiro Montoneros (esquerda peronista) durante uma violenta operação policial em sua casa em La Plata.

Daniel Mariani, filho de Chicha, que não estava em casa naquele dia, foi morto a tiros oito meses depois.

Mariani foi uma das fundadoras das Avós da Praça de Maio em 1977, em plena ditadura, instituição que presidiu até 1989, quando a deixou para criar a Fundação Anahí. O grupo Avós passou a ser liderado então por Estela Carlotto, que o conduz até hoje.

Em agosto de 2014, Carlotto encontrou seu neto, Ignacio Montoya Carlotto, em um caso que comoveu o mundo.

O grupo Avós da Praça de Maio estima em 500 as crianças roubadas na ditadura. Até o momento foram encontradas 119.

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