Agência France-Presse
postado em 26/12/2015 18:33
As piores chuvas e inundações das últimas décadas deixaram neste sábado mais de 170 pessoas desabrigadas no sul do Brasil e nos vizinhos Paraguai, Argentina e Uruguai, como consequência das cheias de rios fronteiriços, o que mantêm as autoridades em alerta.Neste sábado, a presidente Dilma Rousseff sobrevoou de helicóptero o oeste do Rio Grande do Sul, onde 1.800 famílias foram afetadas pelas inundações provocadas pelas fortes chuvas registradas nos últimos dias.
"Estamos aqui porque sabemos que o Brasil sofre com o fenômeno El Niño, que provoca fortes chuvas no sul do país e uma terrível seca no nordeste", disse Dilma, durante rápida coletiva após o sobrevoo.
O major da Defesa Civil Regional Rinaldo da Silva Castro declarou à imprensa que 38 cidades da região foram afetadas pelas cheias dos rios Uruguai e Quaraí, e que 1.795 famílias (umas nove mil pessoas) foram evacuadas.
A presidente, que passou o feriado de Natal em Porto Alegre, com a família, sobrevoou Uruguaiana, a principal cidade do sul do país, banhada pelo rio Uruguai, na fronteira com a Argentina.
Após o sobrevoo, Dilma se reuniu com prefeitos das cidades atingidas. O governo federal desbloqueou neste sábado R$ 6,6 milhões para socorrer a região.
As fortes tempestades provocadas pelo fenômeno El Niño na região provocaram calamidade no Paraguai. A cheia do rio Paraguai deixou 130.000 desabrigados, segundo as autoridades. Quatro pessoas morreram esmagadas na queda de árvores e a capital, Assunção, ficou temporariamente sem luz.
Socorristas continuavam os trabalhos de resgate e evacuação, informou à AFP David Arellano, chefe de Operações da Secretaria de Emergência Nacional (SEN).
"Não podemos deixar abandonadas as milhares de famílias que a cada ano são afetadas por inundações", disse o presidente paraguaio, Horacio Cartes, em sua mensagem de Natal. O presidente decretou estado de emergência para liberar mais de US$ 3,5 milhões para socorrer os afetados.
Os efeitos do El Niño - resultante da interação entre o oceano e a atmosfera nas regiões leste e central do Pacífico equatorial - são dos mais intensos desde 1950 e podem continuar até o primeiro trimestre de 2016, segundo previsões da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
"A pior inundação dos últimos 50 anos"
Ao menos 20 mil pessoas foram evacuadas em diferentes províncias do nordeste da Argentina, devido às cheias dos rios Uruguai e Paraguai, que também mataram outras duas pessoas, informaram as autoridades locais.
"Esta cheia aponta a ser uma das mais complicadas da história", afirmou o ministro do Interior, Rogelio Frigerio, que percorreu neste sábado a província de Entre Ríos, enquanto o chefe de gabinete, Marcos Peña, esteve em Corrientes.
A região agroindustrial de Entre Ríos é a mais afetada, com cerca de 10.500 pessoas retiradas de suas casas, a maioria em Concórdia, cidade de 170 mil habitantes, às margens do rio Uruguai, que vive sua "pior inundação em 50 anos", segundo as autoridades.
"O mais complicado é Concórdia porque a água está em alguns lugares do setor urbano, e por isso o problema de evacuação é mais severo", explicou Frigerio a uma rádio local, citado pela agência Telam.
O governador de Entre Ríos, Gustavo Bordet, e o secretário de Desenvolvimento Humano de Concórdia, Guillermo Echenause, reportaram neste sábado a manutenção do estado de alerta na cidade, apesar de a cheia do rio Uruguai ter diminuído um pouco.
"Neste momento, a situação está estabilizada como consequência de que há tempo bom e isto nos deu uma trégua", afirmou Bordet, destacando que o rio Uruguai se mantém em 15,86 metros.
As autoridades acompanhavam as projeções de inundações provocadas pelo El Niño, mas não esperavam as proporções atuais. Se o rio alcançar os 17 metros, espera-se que os desabrigados em Concórdia, que chegam a 10 mil, superem os 20 mil.
Na vizinha Corrientes, com 90 mil habitantes, foram registrados outros dois mil evacuados e em Chaco, 1.500.
Uruguai também é afetado
A forte vazão do rio Uruguai também castigou vários departamentos (estados) do norte do país homônimo.
O número de desabrigados no norte do país aumentou de 6.608 a 9.083 entre sexta e sábado, segundo o Sistema Nacional de Emergência.
O Sinae informou em seu boletim de sábado que deste total, 1.887 foram evacuados e 7.185 deixaram suas casas voluntariamente.
Os departamentos mais afetados pelas inundações são Artigas, Paysandú, Rivera e Salto (norte), bem como Río Negro (sul) e Durazno (centro).
A ponte internacional que liga as cidades de Artigas (Uruguai) e Quaraí (Brasil) está fechada desde 23 de dezembro por ordem da Direção Nacional Viária.