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Vítimas de paralisia ligada ao Zika vírus superam a doença

A relação entre o vírus e a síndrome caracterizada por paralisia gradativa já é citada pelo Ministério da Saúde que, em todo o ano de 2014, relatou 65.884 procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS)

Agência Estado
postado em 27/12/2015 14:39
Complicação que pode estar ligada ao zika vírus, além da microcefalia, a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), faz com que as vítimas travem uma batalha contra a incapacidade temporária e pela recuperação gradativa de habilidades que faziam parte do dia a dia, como se alimentar sem ajuda de outras pessoas.

[SAIBAMAIS]A relação entre o vírus e a síndrome caracterizada por paralisia gradativa já é citada pelo Ministério da Saúde que, em todo o ano de 2014, relatou 65.884 procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo internações - o número não corresponde ao total de pacientes, pois uma mesma pessoa pode ter feito mais de um procedimento. O ministério explica que os indícios de relação foram detectados pela Universidade Federal de Pernambuco. ;Isso a partir da identificação do vírus em amostras de seis pacientes com sintomas neurológicos com histórico de doença exantemática. Desse total, quatro foram confirmadas com doença de Guillain-Barré;, explicou, em nota.

Dois meses após ter dengue, em abril de 2013, a tosadora de animais Ana Lucia Rosa da Silva, de 42 anos, achou que estava tendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quando os primeiros sintomas da síndrome se manifestaram. ;Dormi na casa da minha cunhada e já estava com a metade do corpo torta, e sem conseguir falar. Dei entrada no hospital e acharam que eu estava tendo um derrame. Fui perdendo as forças, não conseguia me levantar, não estava entendendo o que era. Minha mão não respondia aos comandos.;

Autoimune. A síndrome é uma condição neurológica autoimune e pode ser desencadeada não só pelo zika, mas por qualquer doença infecciosa viral ou bacteriana. ;O organismo produz de forma anormal anticorpos que atacam um envoltório dos nervos chamado bainha de mielina. Uma infecção por vírus ou bactérias, principalmente as intestinais, produz essa desregulação imunológica;, explica Abelardo Araújo, neurologista e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Neuroinfecções do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.

Araújo explica que, por ano, são registrados um a dois casos para cada 100 mil habitantes e a condição pode atingir a deglutição, a musculatura da face e o diafragma. ;É uma emergência neurológica que não pode ser tratada em casa. Toda pessoa tem de ser internada.;

Para Ana Lucia, foram 25 dias de internação, quase quatro meses de cama e a retomada da autonomia teve o seu marco oito meses após a saída do hospital. ;O que mais me marcou, e foi um dia feliz, foi quando consegui lavar o meu rosto sozinha. Nem foi quando comi ou andei. Foi quando consegui colocar as mãos na água e lavar o rosto. Voltar a fazer as coisas é uma mistura de medo e de alegria por estar conseguindo.;

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Ela, que mora na Praia Grande, no litoral paulista, foi tratada com imunoglobulina, também conhecida como gamaglobulina, fez fisioterapia e fonoaudiologia. Outra opção de tratamento é a plasmaserese, que consiste em filtrar o sangue do paciente. Segundo Araújo, 15% dos pacientes apresentam algum tipo de sequela e as mais comuns são perda de reflexos, atrofia e fraqueza muscular permanente. Os sintomas costumam durar entre duas e quatro semanas e podem até levar à morte, se atingirem os músculos respiratórios.

Sem pânico. Mesmo com a associação ao zika vírus, a neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Cristina Massant diz que isso não é motivo para pânico, pois ainda não há meios para evitar que a síndrome se manifeste e não há indícios de que o vírus sempre vai desencadear o problema. ;Isso demandaria mais dados clínicos, mas o zika não é uma causa importante, pois há outros fatores que desencadeiam.;

Em julho do ano passado, a Guillain-Barré apareceu na vida da bibliotecária Ingrid Lopes Abs, de 36 anos. ;Passei oito dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e saí do hospital sem andar. Fiz 20 sessões de fisioterapia e, na décima, já estava usando o andador;, relembra. Ingrid, que mora em Maceió (AL) e conta que ainda está em fase de recuperação, mas que se sente aliviada. ;Hoje, estou bem. Ainda tenho um pouco de paralisia facial e dormência nos pés. É só vitória quando a gente volta a ter uma vida normal. Precisei arranjar forças onde não tinha.;

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