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Zika vírus pode causar necrose cerebral, alertam neurologistas

Sociedade Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil alerta: tomografias indicam que malformação ligada ao novo vírus não só afeta tamanho do crânio de bebês, como provoca necrose em áreas do cérebro, o que pode deixar sérias sequelas

Valquiria Lopes/Estado de Minas
postado em 28/12/2015 08:16
A microcefalia, doença que fez subir o nível de alerta em todo o país para as ameaças transportadas pelo Aedes aegypti, traz consigo um risco ainda mais preocupante, sobretudo para mulheres grávidas ou que pretendam engravidar. O distúrbio que provoca malformação cranioencefálica em bebês é ainda mais grave e causa danos mais severos ao recém-nascido quando desencadeado pelo zika vírus, um dos micro-organismos transmitidos pelo mosquito. A informação é da Sociedade Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, seção Minas Gerais, e tem como base análise de tomografias de cérebros de pacientes apresentadas durante congresso sobre o tema neste ano, em São Paulo. Nos casos em que a microcefalia está associada à infecção por zika, as imagens mostram que, além de o perímetro encefálico dos recém-nascidos ser menor que 32 centímetros ; limite que indica a enfermidade ;, o cérebro apresenta pontos de necrose e calcificações. As alterações podem afetar áreas neurológicas importantes e provocar na criança sequelas motoras, visuais e cognitivas, entre outras.

Sociedade Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil alerta: tomografias indicam que malformação ligada ao novo vírus não só afeta tamanho do crânio de bebês, como provoca necrose em áreas do cérebro, o que pode deixar sérias sequelas

[SAIBAMAIS]Presidente da seção mineira da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria Infantil, o neuropediatra Rodrigo Carneiro de Campos detalha as diferenças. Segundo ele, quando causada por outras razões ; como rubéola, toxoplasmose, complicações na gravidez ou no parto e doenças genéticas ;, a microcefalia resulta na diminuição do tamanho do crânio, mas o cérebro se mantém íntegro. ;As imagens de recém-nascidos de Recife, apresentadas no congresso, mostram os dois tipos da doença. É possível ver que os casos provocados pelo zika vírus são mais severos, com áreas necrosadas, que resultam em calcificações. A depender da região acometida pela necrose, todas as funções vitais podem ser afetadas;, destaca o médico, que reforça o alerta para combate ao mosquito transmissor do vírus.

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A gravidade dos casos é mais um fator a chamar a atenção para a necessidade urgente de medidas de prevenção contra a transmissão do micro-organismo. Diante da falta de vacinas para prevenir a febre zika e de medicações que evitem o desenvolvimento da microcefalia, a grande aposta das autoridades de saúde é no combate a criadouros do Aedes aegypti. ;Essa é uma doença grave, que resulta em muitos prejuízos para a saúde do bebê. Por isso, a única medida eficaz é cada um fazer sua parte para evitar novos casos;, afirma Rodrigo Carneiro de Campos.

Por se tratar de algo novo, não descrito anteriormente na literatura médica, ainda não se sabe exatamente como funciona a relação entre as doenças. Um grupo de 80 pesquisadores brasileiros coordenado pelo Ministério da Saúde, por meio da Fundação Oswaldo Crus (Fiocruz), está trabalhando em pesquisas para aprofundar o conhecimento em relação à microcefalia e ao zika vírus. O ministério confirmou recentemente a relação entre o micro-organismo e o surto de casos de malformação cranioencefálica no Nordeste do país neste ano.

Em todo o Brasil, a relação entre a microcefalia e o zika é investigada em 2.782 bebês com a malformação, segundo o último boletim disponível, e em pelo menos 135 deles a associação entre as doenças foi comprovada. Em Minas são 52 diagnósticos sob apuração, 13 deles em Belo Horizonte. Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde ressaltou a importância do estudo e investigações sobre a relação entre a alteração em bebês e o novo vírus, para esclarecer questões como a atuação do agente infeccioso no organismo humano. Informou ainda que em Belo Horizonte ; que decretou estado de emergência para o combate ao mosquito transmissor ; está mantida vigilância intensificada e investigação dos casos suspeitos. Ainda não há diagnósticos confirmados de microcefalia na capital, destacou a secretaria. Já a secretaria estadual informou que segue e executa as recomendações oficiais do Ministério da Saúde.

PREVENÇÃO Como o ciclo de reprodução do mosquito, do ovo à forma adulta, é curto (pode levar de cinco a 10 dias), o Ministério da Saúde reforçou recomendações à população com a chegada do período de férias. Por isso, mesmo em uma viagem curta é preciso estar atento. Um balde esquecido no quintal ou um pratinho de planta na varanda do apartamento, após uma chuva, podem facilmente se tornar focos do Aedes aegypti e afetar toda a vizinhança. É importante verificar se a caixa-d;água está vedada, as calhas totalmente limpas, pneus sem água e em lugares cobertos, além de garrafas e baldes vazios e com as bocas viradas para baixo, entre outros pequenos cuidados que podem evitar o nascimento do mosquito e as ameaças que ele transporta.

Apesar de o principal foco de alerta estar concentrado nas mulheres grávidas ou que pretendem engravidar, devido ao risco para os bebês, o zika vírus pode deflagrar pelo menos mais uma doença severa: a síndrome de Guillain-Barré. Trata-se de uma reação a agentes infecciosos, na qual o sistema imunológico do paciente passa a atacar a chamada bainha de mielina, que recobre e protege nervos periféricos, garantindo a condução dos estímulos de movimento. Entre os sintomas estão a paralisia ascendente, que começa nas pernas e pode subir para membros superiores e pescoço. A gravidade varia de acordo com cada organismo, mas pode deixar sequelas e até ser fatal, se afetar músculos da respiração e cardíaco.

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