Brasil

Travesti aprovada em 1º lugar em curso da UFPE será chamada por nome social

Melhor colocada em Serviço Social, Amanda Palha nasceu em São Paulo e chega hoje ao Recife para fazer sua matrícula

Diário de Pernambuco
postado em 21/01/2016 08:14
Estudante de 28 anos será chamada pelo nome social em sua nova universidade

Recife, Pernambuco - Amanda Palha, 28 anos, desembarca hoje no Recife. É a primeira vez dela na capital pernambucana. Uma estreia e tanto. Travesti e engajada na causa LGBT há dez anos, a paulista passou em primeiro lugar no curso de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com a nota 769,39.

Na UFPE, Amanda poderá ser chamada pelo seu nome social nos registros da universidade. O direito foi reconhecido através da portaria normativa n; 01, de 20 de fevereiro de 2015.

A militante mora na capital paulista e disse ter escolhido o Recife para estudar porque em São Paulo não existem universidades públicas com o curso de serviço social. ;Santos tem, mas, para mim, significaria a mesma mudança de endereço, seja para o litoral ou para outro estado, como Pernambuco. No Recife, conheço algumas pessoas e tenho boas impressões da cidade e do curso de serviço social;, explicou.

Na chegada, Amanda vai cuidar da matrícula na UFPE, que acontece entre os próximos dias 22 e 26, e do novo emprego: trabalhar em cooperativas de reciclagem formadas por mulheres. O mesmo serviço que ela já desenvolvia em São Paulo.

Amanda sabe do significado de sua conquista. Mas reconhece que só entrar na universidade não muda em nada a situação das travestis. ;É importante por um lado, mas mais importante é o que eu vou fazer em prol do movimento a partir do momento em que estiver lá dentro. Essa repercussão do meu caso na imprensa mostra o quanto nós, travestis, ainda somos exceção como universitárias;, reflete.

A conquista da vaga na universidade aconteceu depois de pelo menos três tentativas. ;Já tentei ciências sociais, história, mas nem sempre ia fazer as provas na segunda fase do concurso. No ano passado, tive uma crise de pânico no dia dos exames;, lembrou.

O tema da redação deste ano - A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira - ajudou Amanda a conquistar uma boa nota: 960. ;Fiz um curso de formação política no Núcleo de Educação Popular, em São Paulo, e isso me ajudou muito com a redação, com filosofia e com história. Ajudou a aumentar minha nota;, destacou. Os pais e dois irmãos de Amanda também comemoraram a conquista e apoiaram a viagem dela para o Recife.

A ideia de Amanda é seguir carreira acadêmica, com mestrado e doutorado. A travesti conta ter interesse em pesquisa, além de intimidade com estudos de economia, política e gênero.

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