Brasil

Deslocamento de lama de barragem da Samarco coloca Mariana sob novo alerta

Movimentação de rejeitos da Barragem do Fundão obriga a Samarco a evacuar a área, avisar autoridades e a adotar nível intermediário da escala de risco de desastre

Estado de Minas
postado em 28/01/2016 11:26
Rejeitos remanescentes da Barragem do Fundão se movimentaram na área da mineradora, qu acionou o sinal amarelo
Menos de três meses após o maior desastre socioambiental do Brasil, uma movimentação de rejeitos na Barragem do Fundão, da mineradora Samarco (controlada pela Vale e BHP Billiton), obrigou a empresa a retirar os trabalhadores que atuavam no reforço das barragens do complexo minerário de Mariana, na Região Central de Minas, e a acionar o alerta amarelo, o que assustou a população local.

A mina da Samarco tem três barragens: Germano, a maior delas; Santarém, que armazena água; e Fundão (com rejeitos de mineração da Samarco e da Vale), que rompeu em 5 de novembro provocando a morte de 17 pessoas e deixando outras duas desaparecidas, além de arrasar comunidades e gerar estragos em toda a Bacia do Rio Doce.

A Defesa Civil de Mariana foi avisada do deslocamento pela empresa na tarde de ontem. De acordo com o chefe do órgão, Welbert Stopa, não houve vítimas. ;Houve um deslocamento de massa. Foi material acumulado que vazou;, afirmou Stopa. Ele detalhou que esses materiais acumulados são sedimentos do vazamento de novembro e que foi adotado o alerta amarelo, em uma escala de risco que ainda tem o verde (sem perigo) e vermelho (rompimento iminente).

Em nota, a Samarco informou que ocorreu uma ;movimentação de parte da massa residual da Barragem do Fundão devido às chuvas das últimas semanas;. A empresa destacou que seguiu o Plano de Emergência e evacuou o local. ;Não houve a necessidade de acionamento de sirene por parte da empresa. As defesas civis de Mariana e Barra Longa foram devidamente informadas;, garantiu a mineradora.

Após o rompimento no início de novembro, a Samarco foi obrigada a monitorar as barragens de forma ostensiva, com drones e piezômetros (equipamento que mede a pressão dos reservatórios). Além disso, teve que apresentar um plano de emergência para as barragens Santarém e Germano, o que fez, com atraso, no dia 13.

Boletim da Samarco enviado ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) indicava a presença de 150 trabalhadores nas obras no local. A Barragem de Santarém está sendo reforçada e, segundo relatório do DNPM falta um percentual de 11,9% para a conclusão. O coeficiente de segurança da barragem era de 1,37. O recomendado pela norma de segurança NBR 13.028 é acima de 1,5.

A Samarco também realizou obras no dique de Selinha da Barragem de Germano, que já foram concluídas. O coeficiente de segurança era de 1,22 e subiu para 1,51. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, Extração de Ferro e Metais Básico (Metabase) de Mariana, Ronaldo Bento, a movimentação foi provocada pelo sedimento das obras que foram realizadas no dique da Selinha. A Samarco, entretanto, afirmou, via assessoria de imprensa, que o reforço do dique não foi afetado. A empresa garante também que não há risco da lama de rejeitos atingir a Barragem de Santarém.

O engenheiro Gerson Campera, consultor em barragens do Instituto Mineiro de Perícias, considera a situação preocupante. ;Toda vez que há passagem de material, a lama leva tudo que está ao lado. Pode virar uma segunda ruptura no serviço de reforço do barramento;, avalia. O tenente do Corpo de Bombeiros Leonard Farah, um dos coordenadores da operação de resgate nas áreas atingidas, afirma que a corporação não foi acionada.

Palavra de especialista

"A situação é preocupante"

;Como ainda há um volume considerável de rejeitos contido na Barragem do Fundão, há risco de uma nova tragédia ocorrer, embora não sob a perspectiva de perda de vidas, porque eles (a Samarco e autoridades) estão sob alerta. Mas a situação é preocupante, porque a área ainda está em obras e um vazamento pode provocar forte impacto ambiental. Outra ameaça é a Barragem de Santarém, que é de água e também está sendo recuperada. O trabalho tem que ser constante em todas as áreas, quanto mais porque houve uma ruptura de grande porte. Espero que esse estado de alerta possa prevenir com relação à perda de vidas humanas, o que não houve no acidente de novembro. Se o restante do rejeito de Fundão vazar, a lama fará o mesmo caminho e a qualidade da água da Bacia do Rio Doce ficará ainda mais comprometida.;

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