Diário de Pernambuco
postado em 14/02/2016 15:50
A cultura pernambucana está em luto. O artesão Manuel Eudócio Rodrigues, de 85 anos, faleceu na noite do sábado em Caruaru com sintomas da doença chikungunya, segundo a família. O artista estava doente desde a última terça-feira (9). De lá para cá, segundo o filho Arijaelson Rodrigues, de 55 anos, ele fez duas hemodiálises, mas não resistiu e teve falência múltipla dos órgãos. Discípulo de Mestre Vitalino, Manuel Eudócio se tornou referência na arte do barro. A Secretaria de Saúde de Pernambuco enviará equipe ao Hospital Mestre Vilatino para averiguar a causa do óbito.
O artesão ficou conhecido pela diversidade das peças. Uma das mais populares é o reisado, composto por 28 personagens. "A gente sente uma tristeza muito grande. A obra dele é uma coisa que ficou para sempre. Ele criava muita novidade. Sempre tinha aquela mente boa para criar as peças. Deixou um legado imenso", declarou o filho Arijaelson, um dos nove deixados por Manuel. Todos trabalham com barro. De acordo com ele, o pai - mesmo com a idade avançada - ainda criava. Ele dava início ao trabalho por volta das 5h.
Em reconhecimento à obra, o artista foi agraciado com o título de Patrimônio Vivo da Cultura Pernambucana em 2005, segundo o livro Patrimônios Vivos de Pernambuco, escrito por Maria Alice Amorim e lançado pela Fundarpe em 2010. No ano passado, foi o homenageado do São João de Caruaru. "A homenagem foi linda. Ele ficou muito alegre", recordou o filho. Com o auxílio da avó, ele começou a criar ainda na infância. Aos 8 anos, esculpiu as primeiras peças. Aos 17 anos, começou a trabalhar profissionalmente com Mestre Vitalino.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, lamentou a morte do artista através de nota oficial. "Pernambuco amanheceu mais pobre culturalmente com o desaparecimento do Mestre Manuel Eudócio, único artista vivo da geração do Mestre Vitalino, de quem foi discípulo, e um Patrimônio Vivo de nosso Estado. Mestre Eudócio, com sua humildade cativante e grande sensibilidade, criou um estilo próprio, misturando cenas do cotidiano nordestino com figuras das nossas ricas festas populares. Essas esculturas coloridas estão hoje espalhadas pelo mundo. Queremos apresentar os nossos sentimentos e a nossa solidariedade aos seus familiares, que, tenho certeza, vão levar à frente o legado do Mestre Eudócio", disse.
Manuel já havia amputado um dedo do pé no fim do ano passado em decorrência de diabete. O velório ocorre neste domingo em frente à casa e ao ateliê dele, localizados no Alto do Moura, em Caruaru, agreste pernambucano. O enterro está marcado para às 16h.