A Guarda Municipal do Rio (GM) exonerou o responsável pela equipe que reprimiu violentamente um bloco de carnaval na madrugada de sábado (13/2), no centro da cidade. A Corregedoria abriu sindicância para investigar se houve uso desproporcional da força na confusão, que deixou foliões feridos e terminou com quatro pessoas detidas.
;O comando da GM-Rio não tolera este tipo de violência por parte de seus agentes, e irá apurar com rigor o caso, o que pode resultar na demissão dos envolvidos;, disse em nota à imprensa.
Depois que relatos das vítimas foram publicados nas redes sociais, a Guarda informou que os agentes foram afastados até o esclarecimento da repressão. Em entrevista à rádio CBN, o secretário da pasta, Leandro Matieli, reconheceu os excessos. Antes, a corporação havia explicado que os agentes atuaram para evitar a depredação da Praça Mauá e redondezas, área que acabou de passar por obras de revitalização.
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;É óbvio que houve um erro ali. É inadmissível ter havido aquele excesso. Como chefe, eu peço desculpas às pessoas agredidas, me solidarizo com elas;, disse. ;Faltou sensibilidade e bom senso;, reconheceu.
Ontem a tarde (14/2), um dos agredidos no Tecnobloco, o jornalista Bernardo Tabak, que chegou a ser enforcado por guardas, relatou o que sofreu em sua página na internet. Ele contou ter sacado o celular para filmar o momento em que os agentes avançavam sobre o público, ;batendo em gente gratuitamente, indiscriminadamente, [pessoas] que tentavam simplesmente se desvencilhar da confusão;. Com o equipamento em punho, acabou atacado e teve o celular quebrado.
;Enquanto eu levava chutes e porrada de cassetetes gritava com eles: que isso!! Tá maluco?! O que eu fiz?!; Não adiantava, estavam cegos e surdos;, desabafou. O jornalista disse que, apesar de não estar a trabalho, se sentia na obrigação de reportar os fatos. ;Desacato por filmar truculência cometida por agentes públicos?! Mas esse é o meu ofício! Mesmo não estando em serviço, não deixo de ser repórter: somos jornalistas 24 horas, determinou Zuenir Ventura;.
Agressão começou durante ;Carinhoso;
Vídeos na internet mostram que a confusão começou logo depois de a banda tocar a canção Carinhoso, de Pinxinguinha, de frente para os guardas, posicionados em linha. Não era a primeira vez que um bloco finalizava desfile da madrugada no local, até então, sem qualquer registro de confusão. Na última terça-feira (9), o Bloco Secreto passou por ali, quando uma multidão dançou sob a marquise do Museu da Amanhã e se refrescou no espelho d;água.
Mas, no sábado, pessoas sofreram luxações e tiveram fratura exposta após o confronto. A foliã Bruna Marques disse que os agentes usaram bomba de gás contra a multidão e explicavam a repressão dizendo ;que não poderia haver bloco na Praça Mauá, porque o prefeito [Eduardo Paes] não quer;. Ela também contou que uma das amigas teve o celular roubado pela GM, que nega.
Outra testemunha, Caroline Marangoni, publicou relatos da confusão em rede social. Contou que foi agredida mesmo pedindo ;calma; aos guardas. ;Eu literalmente olhei nos olhos deles e pedi amor, eles literalmente me responderam com porrada e gás;. A foliã criticou a repressão ao carnaval de rua. ;Que tipo de guarda é essa que nós temos? Eu não posso ocupar a rua, cantar e tocar? Não era uma área residencial e nem nada;, desabafou.
Os foliões dizem que não houve depredação no desfile e nem pichações. A Guarda informou que tem acompanhado os blocos autorizados ou não, para organizar o trânsito.
Esse não foi o primeiro relato de confusão entre foliões e a Guarda Municipal neste carnaval. Na abertura não-oficial, em 3 de janeiro, houve uma desastrada repressão a ambulantes sem autorização para atuar nas ruas. A GM dispersou a multidão com cassetes, spray de pimenta e bombas de efeito moral.