Em pouco mais de uma semana, alunas de escolas e universidades de todo o País enviaram para uma página do Facebook mais de 750 relatos de agressão moral e sexual que sofreram de seus professores. Dos depoimentos recebidos, mais de 500 foram publicados, ultrapassando 16 mil ;curtidas; na rede social em apenas sete dias.
A página Meu Professor Abusador foi criada no dia 9 de fevereiro por quatro jovens mulheres de Porto Alegre, que concluíram recentemente o Ensino Médio, depois que uma delas descobriu um caso de assédio na escola que frequentou.
Os relatos publicados em Meu Professor Abusador precisam seguir algumas regras. O nome do agressor não pode ser revelado, mas algumas características que o tornem identificável são autorizadas. O nome da instituição de ensino em que o fato aconteceu também é permitido. A autora tem o anonimato garantido pelas moderadoras.
Uma das criadoras da página concordou em dar entrevista pelo bate-papo da rede social. Ela pediu, no entanto, que sua identidade não fosse revelada por questões de segurança.
;Esse projeto mexe com homens que detêm muito mais poder social e monetário do que nós;, explicou a moderadora escolhida para a entrevista. Ela revelou que o grupo buscou auxílio jurídico com advogadas para se proteger de possíveis ameaças e processos.
Mesmo assim, a entrevistada garantiu que a página está aberta a críticas construtivas. ;Estamos acostumadas, por militarmos no movimento feminista. Há, também, os discursos de ódio, que ignoramos;.
Uma das críticas mais frequentes diz respeito à dificuldade de comprovar a veracidade dos relatos anônimos. ;Sempre respondemos que sim, alguns poderiam [ser falsos]. Mesmo assim, temos como segurança as mais de 16 mil ;curtidas; que comprovam que casos de abuso em sala de aula não são exceções, mas uma realidade;.
Algumas vezes, os depoimentos enviados para Meu Professor Abusador são, também, pedidos de socorro de vítimas atuais de assédio. Nesses casos, as moderadoras costumam ajudar a autora a denunciar o agressor.
;Há um caso em particular, mais grave, em que estamos colocando a vítima em contato com uma advogada;, revelou a entrevistada. Ela conta que chorou algumas vezes ao ler os textos enviados para a página, especialmente quando foi possível conversar com a autora através do bate-papo do Facebook.
;Essa oportunidade de abrir portas para que vítimas de abuso se libertem do medo que as aprisiona é incrivelmente engrandecedora e emocionante;, disse a militante.
O crescimento rápido de Meu Professor Abusador na rede social superou as expectativas das jovens, que agora planejam produzir um guia para incentivar e facilitar o processo de denúncias formais.
;Todos os depoimentos estão sendo arquivados, e a possibilidade de autorizar o acesso a esse banco de dados para acadêmicos e pesquisadores simpáticos à causa não está descartada, adiantou a moderadora.
Com pouco mais de uma semana de dedicação ao projeto, é difícil para as criadoras da página vislumbrarem o futuro desse espaço virtual. Por enquanto, elas preferem comemorar os resultados dos primeiros passos dessa caminhada.
;Colocamos as cartas na mesa, sabemos que professores abusam, e queremos fazer parte da construção de um futuro em que isso não aconteça mais. Agora, esse assunto não pode mais ser ignorado;, disse a entrevistada.