O Dia Mundial da Água foi comemorado na terça-feira, ;mas os debates sobre o assunto deveriam se estender por anos. Poderia ser algo como os ;Dez Anos Mundiais da Água;;, afirma Paulo Salles. Em entrevista ao Correio, o presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) explica, dentre outras coisas, sobre a importância de popularizar a data, já que por meio da conscientização conjunta, os mecanismos de preservação passam a ser mais eficazes. Formado em ciências biológicas pela Universidade de Brasília em 1976, Salles fez mestrado em ecologia também na UnB em 1987 e doutorado em ecologia pela University of Edinburgh, Escócia, em 1997. Depois da aprovação da Lei das Águas, ocupou os postos de presidente do Comitê de Bacia do Rio Paranaíba e do Rio Paranoá. Atualmente, exerce, há cinco meses, a presidência da Adasa.
O senhor acredita que o Dia Mundial da Água causa a reflexão necessária na sociedade e nos governos para provocar mudanças no consumo dos recursos hídricos?
Sim. Um Dia Mundial da Água ajuda a gente a refletir sobre a situação. Nós no Brasil estamos enfrentando muitos problemas de falta d;água, como no Nordeste, que sempre teve mas agora está pior. No Amazonas, tem regiões de seca, que é uma coisa que ninguém imaginava e no estado de São Paulo vivemos um exemplo dramático de como a falta d;água pode afetar as nossas vidas. O Dia Mundial da Água pode nos ajudar a desenvolver essa consciência da incerteza sobre o clima, da incerteza sobre as condições que estamos vivendo e sobre a forma como encaramos a questão no Brasil. Na realidade, nós precisamos transformar isso em ;Dez Anos Mundiais da Água; para que o assunto seja discutido todos os dias.
Qual a situação de segurança hídrica do Distrito Federal? O que está sendo feito para aumentar a disponibilidade hídrica para os quase 3 milhões de habitantes?
Nós vivemos uma situação praticamente de equilíbrio. Os três reservatórios principais ;Lago Paranoá, Lago de Santa Maria e Lago Descoberto ; já estão no seu nível máximo ou próximo disso. Mas mesmo assim, não dá pra gente descuidar. Temos que nos preparar para uma seca mais severa e coisas assim podem deixar a gente numa situação mais desconfortável. Para aumentar a segurança hídrica do DF, nós temos obras em três sistemas de abastecimento: Bananal, Corumbá 4 e Lago Paranoá. O sistema Bananal deve entrar em operação em 2017 e os outros dois em 2018.
Quais as principais ações da Adasa para controlar o uso da água? E para preservar os recursos hídricos?
Somente a Adasa pode conceder outorgas de uso d;água no Distrito Federal. O que isso significa? Significa que nós sabemos quanto de água a gente está autorizando ser usado e, com base na estimativa de água disponível, nós podemos fazer um trabalho de controle. Sobre a preservação dos recursos é importante a gente fortalecer projetos como o Produtor de Água, que acontece na bacia do Pipiripau, localizada na região Nordeste do Distrito Federal. Pagamos o produtor para que ele pare de produzir, cuide do solo e proteja aquela área. Esse projeto é impressionante porque a gente vê nitidamente que a água volta.
Como avalia a importância de Brasília sediar o Fórum Mundial da Água em 2018?
É de uma importância muito grande. O Fórum é o maior evento de água do mundo e, em razão de todas essas crises hídricas que eu falei, as atenções estão se voltando para oportunidades como o fórum. Nossa meta é sempre garantir água e saneamento para todos. Como é estabelecido na sexta meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, criados no ano passado. Como o Brasil é signatário, então é um compromisso que nós e o mundo assumimos de, em 2030, chegar mais perto de oferecer água potável e saneamento básico para toda a população.